A pesquisa divulgada pelo Datafolha neste sábado revela um paradoxo que sacode o tabuleiro político: 71% dos brasileiros estão convictos de que Lula será mesmo candidato à reeleição em 2026, mas 54% acreditam que ele deveria desistir dessa disputa. Esse contraste expõe a angústia de uma população que, cansada de retrocessos conservadores, ainda duvida da força transformadora de um projeto popular e anticapitalista liderado pelo PT.
Percepção de candidatura e o dilema da esperança
Em abril, 62% dos entrevistados apostavam na permanência de Lula no jogo; em junho, esse número pulou para 66%, até chegar aos atuais 71%. Por outro lado, quem duvidava de sua entrada cena caiu de 34% para 23%. Mas aí entra o drama: mais da metade dos brasileiros acha que Lula deveria abrir mão do pleito, ainda que esse índice tenha caído levemente de 57% para 54%. Seria cansaço ou desconfiança no alcance de uma agenda realmente transformadora?
A pergunta que não quer calar: como convencer essa maioria cautelosa de que desistir não faz parte de nossa estratégia? Qual esquerda abre mão de disputar o poder em nome de um projeto popular e capaz de desmontar as estruturas de exploração capitalista?
Alternativas no campo aliado
No cenário em que Lula não concorre, despontam dois nomes como favoritos para receber seu apoio: Fernando Haddad (PT) lidera com 29%, mas caiu em relação aos 37% de abril; Geraldo Alckmin (PSB) sobe de 18% para 26% e quase empata com o ex-ministro da Educação. A terceira via, porém, continua sendo nenhum dos dois, com 13%.
É irônico ver Alckmin, que ajudou a enterrar qualquer vestígio de estatais nos governos tucanos, sendo alçado ao pedestal justo quando nossa prioridade máxima deveria ser derrotar o bolsonarismo e avançar contra o rentismo. Como aceitar a volta de um representante da velha política liberal enquanto o Brasil clama por soberania nacional e investimento público?
O bolsonarismo resiste na margem
Mesmo inelegível até 2030, Jair Bolsonaro ainda aparece como opção para 30% dos eleitores, um sinal de que a extrema direita nunca desapareceu de verdade. Para 67% dos entrevistados, contudo, ele deve passar o bastão a outro nome do seu campo político. Entre os cotados estão Michelle Bolsonaro (23%), Tarcísio de Freitas (21%) e Eduardo Bolsonaro (11%).
Não deixa de ser patético visualizar o jogo de herdeiros de um projeto que destruiu direitos sociais, estimulou o ódio e empoderou milícias. Mas é exatamente por isso que nossa mobilização precisa ser implacável: a direita se renova em várias faces e só será derrotada pela força de um projeto unitário, comandado pela classe trabalhadora e por seus representantes verdadeiros.
No tabuleiro em que Lula decide ou não a própria candidatura, a esquerda deve se articular desde já para apresentar um programa de rupturas e aprofundar a mobilização popular. Não se trata apenas de “ser candidato” ou “abrir mão”, mas de construir um caminho que não volte atrás nas conquistas sociais e que enfrente de peito aberto os inimigos do povo.
Chegou a hora de abandonar hesitações e responder à altura quem propõe racionamento de energias, privatizações e desmonte das estatais. Nosso projeto não cabe na lógica opressora do mercado. Que fique claro: desistir não é opção para quem deseja de verdade romper com o velho e reescrever a história do Brasil para os de baixo.
E você, leitor, está pronto para defender até o fim a reeleição de Lula como trampolim para uma nova etapa de luta anticapitalista, ou vai esperar que a direita volte a precarizar a vida do povo? A escolha é nossa.