O anúncio da pré-candidatura de Romeu Zema pelo Partido Novo em São Paulo foi espetáculo típico de uma direita que já perdeu o senso: painéis no estilo TED, plateia de empresários e uma coleção de figuras que escancaradamente defendem o tal “Estado mínimo” — ou seja, o Estado dos ricos. Se a plateia aplaudiu, foi porque ali se celebrou a defesa de cortes, privatizações e a máquina administrativa voltada para os interesses do capital. Nós, que acreditamos no papel estratégico do setor público e na defesa das estatais, vemos nisso um roteiro conhecido e perigoso.
No discurso, Zema transformou a experiência mineira em cartilha nacional. “Se deu pra deixar o estado mais leve em Minas, dá para fazer no Brasil. Existe um Brasil produtivo, moderno, competitivo e à espera de um governo sério. O Brasil que queremos é o que trabalha, arrisca, vence e dá orgulho. É com esse Brasil bravo que nós vamos chegar à Brasília, para varrer o PT do mapa”, declarou Romeu Zema. A intenção é clara: não se trata só de disputar eleições, mas de desmantelar políticas públicas, desmontar serviços e reduzir o Estado à condição de prestador de serviços para o mercado. É o velho truque do discurso empresarial travestido de “profissionalismo” no governo.
Zema repetiu o mantra da modernização pelo mercado: “O Brasil precisa de um governo com nível de profissionalismo de empresas que criam soluções para melhorar a vida das pessoas. O que falta é o governo parar de atrapalhar e fazer regulamentações confusas”. E, como num roteiro dramático para o eleitor medroso, afirmou também que o país está “perto de se transformar em um narcoestado dominado pelo crime organizado”, prometendo combate feroz sem explicar como suas políticas de arrocho social não agravam a criminalidade. “Acabar com as facções criminosas”, diz ele, sem mencionar que a solução passa pela ampliação de direitos, empregos e serviços públicos — justamente o oposto do pacote privatizante que ele defende.
No evento, o Novo tinha sua tropa: Eduardo Ribeiro, Marcel van Hattem, Ricardo Salles, Adriana Ventura, Luiz Lima, Gilson Marques, e o senador Eduardo Girão. Vieram também figuras do círculo do poder econômico e do lawfare, como Deltan Dallagnol, e agentes de segurança alinhados ao discurso punitivista, como o secretário de Segurança de Minas, Rogério Greco. O cenário é esse: um festival de propostas para transferir riqueza pública ao setor privado, com plateia e aval político. Não é reforma do Estado; é remoção do Estado em favor dos bilionários.
Quem é Romeu Zema
Romeu Zema, 60 anos, administrador pela FGV-SP e empresário do Grupo Zema, assumiu o governo de Minas em 2019. Vencedor como outsider em 2018, construiu sua reputação vendendo a narrativa de gestor eficiente — gestão entendida, em muitos casos, como corte de gastos sociais e aproximação com interesses privados. Joaquins do mercado aplaudem, mas a conta sempre chega para os trabalhadores e trabalhadoras. Quando o Estado “deixa de atrapalhar”, quem paga a conta são os mais pobres.
Para nós de Luta Socialista, essa ofensiva do Novo não é um acidente democrático: é a repetição ensaiada de uma política que já conhecemos. Criticar o PT enquanto pretende desmontar o que restou de conquistas sociais não é alternativa — é cortina de fumaça. Lula e o PT representam, para além das disputas eleitorais, uma possibilidade real de retomar políticas públicas e de abrir uma nova etapa de luta anticapitalista, que empodere o povo e reafirme o papel estratégico do Estado contra a ganância dos ricos.
A pré-candidatura de Zema anuncia, portanto, mais que uma campanha: anuncia uma disputa de projeto de país. Vamos encarar essa batalha sem ingenuidade. Defender estatais, serviços públicos e soberania econômica não é retórica: é condição para garantir direitos. Se o plano do Novo é “varrer o PT do mapa”, nossa resposta é clara e organizada — mais democracia, mais justiça social e menos espaço para os que querem vender o Brasil a peso de ouro.