O último governador tucano resolveu formalizar o óbvio: Eduardo Riedel saiu do PSDB e se filiou ao PP, assinando a mudança que sacramenta a derrocada eleitoral e política do velho partido de vanguarda conservadora. A migração foi oficializada na última sexta-feira (15) junto ao Tribunal Superior Eleitoral e, poucos dias depois, já tinha lugar garantido em evento no Senado — cenário perfeito para comemorar a falência de um projeto político que se perdeu entre acordos de cúpula e vaidades regionais. Até quando os tucanos vão fingir que existe “recuperação” possível quando o partido perde todos os seus governos estaduais eleitos em 2022?
Riedel vinha dadas pistas há meses: cortejado por PSD e PP, ele segurou a saída enquanto a direção do PSDB negociava uma hipotética fusão com o Podemos. Ao que tudo indica, a fusão não convenceu na reta final e o governador deu o passo que muitos já previam. “Apoio integralmente a união com o Podemos”, disse Eduardo Riedel na reunião de junho, acrescentando que “que a gente continue fortalecendo o nosso partido”. Antes de bater o martelo, ainda comunicou a decisão ao presidente do PSDB, Marconi Perillo — um gesto protocolar antes de abraçar o novo abrigo político.
O que se desenha é a capitulação definitiva do PSDB como grande projeto nacional: sem governadores, sem bancada relevante, sem projeto presidencial desde 1989 — um partido reduzido a remendos e negociações de última hora. A migração de Riedel não é um episódio isolado, mas a conclusão de um processo que se acelerou desde 2018 e explodiu em 2022, quando o PSDB viveu seu pior desempenho eleitoral da história recente.
Sem governadores
Com Riedel fora, o tucanato fica oficialmente sem governadores eleitos em 2022. Antes dele, Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e Raquel Lyra (Pernambuco) já haviam partido para o PSD. A debandada foi mais ampla: o partido perdeu representatividade no Congresso, viu sua bancada histórica ser reduzida à mínima expressão na Câmara, ficou sem bancada no Senado e, pela primeira vez em décadas, não apresentou candidato ao Planalto. Perdeu também o governo de São Paulo, que esteve sob domínio tucano por quase trinta anos — um símbolo de hegemonia política que desmoronou como castelo de cartas.
Os tucanos tentaram remediar com uma federação ao Cidadania, uma costura eleitoral para tentar recuperar fôlego. O resultado? Fragmentação e irrelevância. A política de centro-direita do PSDB mostrou-se incapaz de oferecer alternativas reais na crise brasileira: nem restou projeto conservador populista forte como o bolsonarismo, nem restou uma direita social-democrata coerente. Resultado: muitos migraram para siglas mais pragmáticas e menos ideológicas, como PP e PSD, que hoje disputam os restos desse eleitorado que não aceita mais o discurso antigo.
O que nos interessa, enquanto projeto de esquerda combativo, não é apenas comemorar o naufrágio de adversários — embora seja saboroso ver a direita dilacerada por suas próprias contradições! —, mas compreender o espaço político que se abre. A direita fragmentada e em crise precisa ser desmantelada politicamente; seus tentáculos econômicos, vendidos aos interesses de bilionários e privatistas, continuam ativos e perigosos. Precisamos de uma alternativa organizada, que defenda estatais, enfrente privatizações e coloque a luta de classes no centro da disputa.
Se existe urgência, é a de transformar derrotas eleitorais da direita em terreno para avançar na construção de uma força popular e anticapitalista, capaz de defender serviços públicos e democratizar poder e riqueza. Lula e o PT não são vistos aqui como simples alternativa eleitoral, mas como protagonistas possíveis de uma nova etapa de mobilização social — e é hora de empurrar essa alternativa para além da administração, rumo a um projeto genuinamente transformador.
O PSDB se reduz a lembrança; o espaço político se reconfigura. A tarefa da esquerda é clara: não deixar esse vácuo ser ocupado por arranjos fisiológicos nem por velhas lideranças que negociam privilégios. Vamos reconstruir organização, disputar mentes e ruas, e transformar a crise da direita em oportunidade para projetar uma saída popular para o Brasil. Quem vai nos impedir?