Nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dedicado mais tempo a conversas para tentar costurar uma paz entre Rússia e Ucrânia — e não por obra do acaso diplomático, mas porque há interesses estratégicos e populares em jogo. Enquanto a direita populista e neoliberais de plantão gritam em uníssono contra qualquer gesto de soberania — ou pior, conspiram com políticas que servem só aos bilionários — Lula aposta na diplomacia ativa para defender o país e proteger o povo brasileiro das consequências geopolíticas de uma guerra distante.
“O presidente se empenhou e segue se empenhando muito por isso”, disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, lembrando que o esforço de busca por um cessar‑fogo e por um acordo de paz não é gesto vazio de boa vontade, mas ação prática com objetivos concretos. O governo vê, com toda razão, que a pacificação tem efeitos diretos no comércio e na segurança alimentar do Brasil: somos fortemente dependentes de fertilizantes que vêm da Rússia — diretamente ou reexportados via China — e qualquer escalada de sanções pode prejudicar colheitas e o bolso da população.
Fertilizantes, sanções e chantagem externa
A explicação é simples e escandalosa: se os Estados Unidos aprovarem novas sanções contra produtos russos — e há um movimento bipartidário no Congresso americano para isso — o Brasil pode sofrer dificuldades imediatas para importar insumos essenciais ao agronegócio. Uma missão de senadores brasileiros que foi aos EUA em julho recebeu um recado claro de fontes democratas: “Se a guerra entre Rússia e Ucrânia persistir, a lei será aprovada facilmente no mês que vem, quando o Congresso americano retorna das férias”, segundo relatos daqueles interlocutores. Traduzindo: tanto republicanos quanto democratas podem usar o Congresso como instrumento de pressão geopolítica, sem se importar com quem paga a conta aqui.
A paz que Lula busca é também uma defesa dos interesses populares e do abastecimento do país. Não é negociação de mercado vultoso; é intervenção do Estado para evitar que a vida da maioria seja decidida por votos em comissões estrangeiras ou por interesses de corporações que lucram com crises.
Há ainda a manobra conhecida: reexportação via China. Estatísticas oficiais subestimam a dependência brasileira porque parte dos fertilizantes russos entra na cadeia global pela China, que depois repassa o produto — um mecanismo prático para driblar embargos mas que, para o Brasil, não resolve a insegurança de abastecimento. O Governo tem pressa em reduzir vulnerabilidades estratégicas e em abrir alternativas, mas isso exige planejamento estatal e investimento público — aquilo que a direita sempre torce o nariz quando não há lucro imediato para os amigos do mercado.
“Um acordo de paz será motivo de comemoração pelo fim do conflito, principalmente, mas também pelos efeitos colaterais favoráveis no comércio”, completou Carlos Fávaro, apontando que a diplomacia de Lula não é apenas moral: é materialmente necessária. E é justamente essa perspectiva que a direita raivosa nunca entende: a soberania e a proteção social passam pela capacidade do Estado de intervir e articular soluções internacionais.
Não aceitamos que o Brasil seja chantageado por um Congresso americano que, quando quer, se entende com qualquer lado para proteger interesses de mercado. Defender a autonomia brasileira passa por fortalecer nossas estatais, investir em fertilizantes nacionais e buscar acordos internacionais que privilegiem a paz, não a lógica do lucro exponencial dos poucos.
Lula e o PT, mais do que gestores de uma crise, mostram aqui o que a esquerda deve ser: agente de mediação internacional, defensor da economia popular e ousado na política industrial. Contra bolsonarismo e sua ruidosa subserviência, é urgente apoiar um projeto que reduza dependências e coloque o país no caminho de soberania produtiva e justiça social. Se a paz global ajuda nisso, que venha a paz — e que venha também uma política interna à altura das necessidades do povo.