luta socialista

Governo culpa ‘cochilo’ e rasteira do União Brasil por derrota na CPMI do INSS

A derrota acachapante que o governo Lula sofreu logo na abertura da CPMI mista do INSS expôs, mais uma vez, as fragilidades de uma articulação que insistiu em subestimar a direita — e acabou colhendo o fruto amargo do despreparo. Foi uma combinação de confiar demais em acordos de bastidor, crer que nomes moderados seriam respeitados e vacilar na presença física dos indicados. O resultado? A oposição leva a presidência e a relatoria, e o governo fica tateando respostas em meio ao desgaste político. O governo subestimou a oposição e pagou o preço do despreparo.

Como a oposição virou o jogo

O suposto acordo costurado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, com partidos de centro ruiu diante de uma manobra combinada da direita. Em vez do governista Omar Aziz (PSD-AM) na presidência da CPMI, foi eleito Carlos Viana (Podemos-MG), da oposição, por 17 votos a 14 — sinal claro de que a direita conseguiu materializar sua capacidade de articular traições e rasteiras. A escolha do relator também foi simbólica: Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), de perfil bolsonarista, substituiu o mais moderado Ricardo Ayres (Republicanos-TO), que sequer havia assinado o requerimento de instalação da CPMI.

A crise teve componentes óbvios de negligência: parlamentares da base ausentes, como o deputado Rafael Brito (MDB-AL) em missão oficial, e uma falha de checagem do Planalto sobre quem, de fato, estaria presente na sessão. Uma brecha no regimento permitiu ainda que três suplentes do PL — sempre prontos para salvar a pátria da ética — ocupassem vagas cruciais no momento da votação. E, claro, o União Brasil deu a rasteira que já virou marca registrada do oportunismo: prometeu um nome moderado e em silêncio empurrou um aliado bolsonarista para a relatoria.

“Apesar do resultado que a oposição conseguiu hoje, por erros na mobilização de nossa base, vamos continuar trabalhando, corrigindo os erros, para que a CPMI não seja instrumentalizada para atender a interesses políticos. É importante garantir que os trabalhos não interfiram nas investigações em curso e nem no processo de ressarcimento dos aposentados, o que esse governo já está fazendo.” — Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais

“cochilo geral” — um aliado próximo a Lula, descrevendo a articulação no governo

A tentativa do líder do governo na Câmara, Randolfe Rodrigues, de assumir a culpa evidenciou que faltou coordenação, não apenas boa vontade. Não é a primeira vez que a base petista precisa correr atrás do prejuízo; e cada escorregão dá fôlego político à direita, que vive de criar narrativas e espetáculos para desgastar o campo progressista.

O fato de a oposição controlar a presidência e a relatoria é preocupante porque dá a ela poder para convocar ministros e representantes de entidades aliadas ao governo, como a Contag. Há ainda o risco midiático e simbólico de convocar interlocutores próximos ao presidente — um exemplo citado pela imprensa é a possibilidade de chamar Frei Chico, irmão de Lula e dirigente do Sindnapi. Mesmo não sendo investigado ou citado em documentos da PF e da CGU, a simples convocação serviria ao espetáculo oposicionista e ao linchamento público calculado.

Se a direita se arma com rasteiras e suplentes, nós precisamos nos armar com organização popular.

É hora de transformar esta derrota parlamentar em lição política. Para além do aperto de mãos e dos comunicados oficiais, o governo e a base devem reforçar sua presença nas votações, afinar a inteligência política e não confiar em cavalos de Troia vindos do centrão e do União Brasil. Lula e o PT têm a responsabilidade histórica de não apenas governar, mas de liderar uma nova etapa de luta organizada contra as forças que querem desmontar estatais, privatizar direitos e devolver o país aos bilionários de sempre. A direita celebrou uma vitória tática — cabe à esquerda responder com estratégia, mobilização social e articulação séria nos corredores do Congresso.

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