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“‘Você falaria isso do Temer?’: a crise explícita entre Jair e Eduardo Bolsonaro nas conversas do inquérito”

O papelão Bolsonaro em versão família em choque reaparece nas folhas do inquérito: conversas privadas entre Jair e Eduardo Bolsonaro, entregues pela Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal, revelam não só troca de palavrões familiares, mas uma tentativa explícita de controlar a narrativa pública em meio a crises diplomáticas e econômicas. Os dois foram formalmente indiciados pela PF no dia 20 — e os registros mostram a mistura mortífera de desordem pessoal e ambição política que sempre foi o núcleo desse projeto autoritário.

A conversa registrada pela PF aconteceu em 15 de julho, seis dias depois do anúncio do governo Trump sobre um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros — cenário perfeito para que a órfã da política externa bolsonarista tentasse minimizar danos. A faísca veio da crítica pública de Jair a Eduardo, chamando o filho de “imaturo” por sua atuação nos Estados Unidos e pelos desencontros com aliados locais. A resposta do deputado foi imediata e sem filtro: “VTNC seu ingrato do caralho”, disse Eduardo Bolsonaro, conforme os documentos da PF. Logo em seguida, cobrou reconhecimento e comparações que, no fundo, eram chantagem afetiva: “Quero que você olhe para mim e enxergue o [Michel] Temer [ex-presidente]. Você falaria isso do Temer? Só isso”, disse Eduardo, conforme os documentos da PF.

O desespero é visível: tarifa alta, patrulha internacional e a família política em modo panfletário — tudo ao vivo e em tom de barraco. Jair tentou consertar o estrago com promessa de “resolver agora” em outra entrevista e, num gesto que mistura teatro e manipulação, enviou ao filho uma captura de tela com a declaração de apoio: que Eduardo “está certo e luta por liberdade”. Horas após a trégua pública, Eduardo recuou e mandou um pedido de desculpas: “Desculpa, peguei pesado… Estava puto na hora”, disse ele, segundo os documentos. Para coroar o gesto de família, o deputado ainda publicou nas redes sociais que conversara com o governador Tarcísio de Freitas e que ambos atuavam “na melhor das intenções do interesse dos brasileiros” — frase feita para a plateia enquanto a política real acontece nos bastidores e nas embaixadas.

Relação de Temer e Bolsonaro

Os documentos também retomam o papel do ex-presidente Michel Temer como bombeiro institucional nas crises de Jair com o STF. Em 2021, foi Temer quem foi buscado de avião para Brasília com o objetivo de resolver a crise causada por ataques do presidente a ministros do Supremo após o 7 de Setembro. Já em 2024, com novo atrito, Temer reuniu-se com ministros do STF e trouxe promessas de que Bolsonaro não atacaria a Corte durante um ato na Avenida Paulista — ato em que o então presidente pediu anistia para os presos do 8 de janeiro. Ou seja: a cada crise, a velha política de acordos e mediações aparece para tapar o buraco aberto pelo bolsonarismo. Nada de novo para quem conhece o teatro das elites brasileiras.

O que esses trechos deixam claro é que o problema não é apenas o palavrão ou a falta de educação familiar; é a sistemática incapacidade de governar sem recorrer a artimanhas, negociatas e pressões que derivam em coerção política. Não se trata apenas de família; trata-se de poder, impunidade e do pântano autoritário que insistem em chamar de normalidade. A lavação pública dessas conversas reforça que a luta contra o bolsonarismo não é só moral: é política, institucional e estratégica.

Se você acha que isso terminará em puxão de orelha ou em manchetes que logo hibernam, é hora de acordar. O indiciamento pelo fato em si precisa ser seguido por transparência e responsabilização. Não podemos permitir que o circo volte ao picadeiro sem que a sociedade recupere o controle do que é público e do que se faz em seu nome. O Brasil precisa de um projeto que enfrente de verdade as estruturas que permitem esse tipo de farra — e isso passa por fortalecer instituições, proteger estatais e dar voz ao povo, não aos barões do conflito.

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