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‘Não me deixo intimidar’: Hugo Motta responde às ameaças de Eduardo Bolsonaro

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), responde com indiferença controlada às ameaças do clã Bolsonaro — ou pelo menos é isso que diz. Enquanto Eduardo Bolsonaro perambula pelos Estados Unidos desde fevereiro, prometendo sanções norte-americanas a quem não avance a pauta de anistia e impeachment contra Alexandre de Moraes, o comando da Casa optou por uma linguagem de distanciamento institucional. Mas será que silêncio e procedimentos formais bastam para enfrentar a chantagem diplomática de quem confunde política com balcão de negócios e lobby estrangeiro?

“Eu não levo muito em consideração essas ameaças, porque – primeiro – não funciono sob ameaça. Então, para mim, isso não altera nem o meu humor, nem a minha maneira de agir”, afirmou Hugo Motta em entrevista ao blog. Mais adiante, reafirmou seu compromisso com uma postura técnica: “Nós temos dito que o deputado Eduardo Bolsonaro será tratado como todo e qualquer deputado, obedecendo ao regimento da casa. Nem haverá privilégio, nem também haverá o interesse de prejudicar. Nós temos que saber separar as coisas, porque o papel do presidente da casa é agir com muita imparcialidade. Nós temos que ter a condição de conduzir com muito equilíbrio para que a Câmara possa estar focada naquilo que realmente interessa, que são os problemas do nosso país”, disse Motta.

Enquanto o discurso oficial apela à calma, a realidade é mais escandalosa: Eduardo chegou a dizer que Motta e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, poderiam sofrer sanções dos EUA se não pautassem projetos da família Bolsonaro. Não é teoria conspiratória — é chantagem explícita coroada por sua estadia em solo norte-americano, articulando pressões que lembram tempos sombrios de submissão aos interesses externos.

Em resposta à escalada, Motta enviou ao Conselho de Ética da Câmara quatro pedidos de cassação de Eduardo Bolsonaro — três provocados por denúncias do PT e uma pelo PSOL — acusando-o de quebra de decoro parlamentar por atuar “contra o Brasil” e em favor de punições por parte do governo dos EUA. O Congresso é maior do que a intimidação de um grupo que trata a política como negócio familiar. Quem aposta em pressão externa para decidir pauta interna confessa fragilidade política — não força.

A ofensiva legal ganhou outro capítulo quando, na última quarta-feira (20), a Polícia Federal indiciou Eduardo e o ex-presidente Jair Bolsonaro por coação a autoridades responsáveis pela ação penal do golpe de 2023. A reação pipoca nas redes: no X, Eduardo atacou a PF e tentou reduzir tudo a um “vazamento de conversas privadas”. “é lamentável e vergonhoso ver a Polícia Federal tratar como crime o vazamento de conversas privadas, absolutamente normais, entre pai e filho e seus aliados”, escreveu o deputado. Ainda no mesmo post, tentou relativizar sua atuação internacional: “jamais teve como objetivo interferir em qualquer processo em curso no Brasil” e, segundo ele, “Sempre deixei claro que meu pleito é pelo restabelecimento das liberdades individuais no país, por meio da via legislativa, com foco no projeto de anistia que tramita no Congresso Nacional”.

Pura encenação. Como se convencer investidores ou governos estrangeiros a sancionar parlamentares brasileiros fosse defesa de “liberdades individuais”. A verdade é incômoda para quem se esconde atrás de retórica: a chantagem política externada por Eduardo expôs de vez o projeto autoritário da família Bolsonaro — uma mistura tóxica de ressentimento oligárquico, milícia ideológica e clientelismo internacional.

Interlocutores de Motta dizem que as ameaças estão fora do tom real do Congresso e que um momento favorável já se perdeu — em parte, por essa própria ofensiva bolsonarista que tentou enfiar a política na agenda de punições diplomáticas. A lição é clara: o país só avança quando há capacidade de organização popular e institucional para barrar chicanas e defender a soberania política.

A batalha que se desenha não é apenas sobre a cassação de um deputado ou sobre as consequências de um indiciamento. É uma disputa pela dignidade republicana e pelo direito de o Brasil decidir seu destino sem chantagens externas ou familiares. Se a direita golpista aprendeu alguma coisa, foi que o preço de brincar com a democracia é caro — e que o povo, a esquerda organizada e os progressistas institucionais não recuarão diante de ameaças que são, ao fim e ao cabo, o último recurso de quem já perdeu a maioria das ideias.

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