O vice-presidente Geraldo Alckmin saiu em cena nesta semana com o papel de bombeiro diplomático: prometeu derrubar o chamado “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros e anunciou medidas de socorro para exportadores afetados. Entre frases otimistas, viagens programadas ao México e uma injeção de crédito do BNDES, o governo tenta apagar o fogo comercial com truques de negociação — enquanto a tarefa real é reconstruir a força produtiva do país contra as pressões do capital externo e das elites que, aqui dentro, torcem pelo enfraquecimento do Estado. “Se depender de nós, (o tarifaço) acaba amanhã.” — Geraldo Alckmin
Alckmin e o ‘tarifaço’: medidas e discurso
Alckmin, que acumula as funções de vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, disse que trabalha “permanentemente” para reduzir as tarifas americanas e que a saída passa por diversificar mecanismos de atuação: diálogo, negociação e abertura de exceções. “O trabalho é esse. Diálogo e negociação. Entendemos que tem espaço para ter mais produtos excluídos (do tarifaço) e para ter uma alíquota mais baixa” — Geraldo Alckmin. Do ponto de vista diplomático isso é óbvio; do ponto de vista político, é pouco para quem defende um projeto nacional-popular que não submeta nossas cadeias produtivas aos caprichos de Washington.
No caso concreto, o Departamento de Comércio dos EUA enquadrou produtos brasileiros derivados de aço e alumínio sob a mesma taxa aplicada ao resto do mundo, fora das exceções dos 50%. Alckmin enfatizou o impacto prático: “Isso ajuda na competitividade de tudo o que tem aço e alumínio, máquina, retroescavadeira, motocicleta” — Geraldo Alckmin. Em resposta, o governo elevou o envelope de crédito do BNDES em R$ 10 bilhões, passando de R$ 30 bilhões para R$ 40 bilhões, como resposta imediata de socorro aos exportadores. O aumento do crédito do BNDES é uma medida necessária, mas paliativa — protege empresas no curto prazo, sem transformar a estrutura produtiva.
Além do crédito, Alckmin anunciou uma agenda externa: vai ao México para ampliar a corrente de comércio bilateral, mirando setores como biocombustível, energia, SAF (combustível sustentável de aviação), aparelhos médicos, saúde e agroindústria. A lógica é correta: diversificar parceiros e mercados para reduzir a vulnerabilidade a medidas unilaterais. Mas conversar e trocar missões comerciais não substitui uma política ativa de fortalecimento das estatais e de controle público sobre setores estratégicos.
Enquanto isso, a direita e seus apaniguados — os mesmos que aplaudiam desmonte de políticas industriais e privatizações — deveriam responder por sua cegueira: venderam a ideia de que o mercado global daria conta de tudo, e agora querem que o Estado ajeite a conta quando as tempestades chegam. É hora de virar o jogo. Não basta remediar; é preciso atacar as causas: reinvestir em capacidade industrial, ampliar crédito público com foco estratégico, fortalecer o BNDES como agente de política e retomar políticas de conteúdo local que garantam emprego e soberania tecnológica.
O governo tem um instrumento valioso nas mãos: a coalizão que derrotou as forças bolsonaristas e apostou em Lula e no PT para reinstalar segmentos fundamentais do Estado. É com esse impulso que se pode ir além do paliativo e construir uma resposta estrutural às pressões externas — não para agradar diplomatas, mas para proteger trabalhadores e a produção nacional. Se a meta é transformar o país, não podemos nos contentar com discursos que prometem “acabar amanhã” com o tarifaço enquanto deixam intactas as cadeias que geram dependência e lucro para poucos.
A conversa em torno do México e as linhas de crédito são bem-vindas, mas são peças de um xadrez maior. O desafio é fazer o movimento correto: usar o recurso público para desenvolver tecnologia, ampliar o parque produtivo nacional e estabelecer políticas comerciais que defendam nossos interesses, não os dos bilionários globais. É hora de retomar o protagonismo e responder ao tarifaço com estratégia, poder de barganha e, principalmente, com a coragem política que só um projeto popular pode oferecer.