luta socialista

O racha no bolsonarismo e a crise da direita no Brasil atual

Os números não deixam espaço para meias-verdades: a direita bolsonarista está em frangalhos de imagem. A pesquisa Quaest divulgada nesta segunda-feira mostra que 52% dos brasileiros acreditam que Jair Bolsonaro participou de uma tentativa de golpe — e é por isso que ele será julgado a partir da próxima semana. Enquanto isso, 55% acham justa sua prisão domiciliar e 69% entendem que Eduardo Bolsonaro age nos Estados Unidos em defesa de interesses próprios e da família. Para completar o circo, Donald Trump aplicou um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros e tentou empurrar para a narrativa de “perseguição” a Jair a responsabilidade econômica: “perseguição a Jair”, disse Donald Trump.

O que esses números revelam é óbvio: o bolsonarismo perdeu autoridade e passou a ser visto, por boa parte do país, como um projeto familiar e autoritário, desconectado dos interesses populares. A direita se estraçalha entre a negação dos fatos e a tentativa de transformar corrupção em narrativa de vitimização. Governadores que ainda compõem essa base aliada encaram um dilema: ficar ao lado de um ex-presidente desacreditado ou começar a aparar arestas para uma sobrevivência política própria. É um racha que se aprofunda com velhas práticas de clientelismo e discursos de ódio, e com atores internacionais transformando política interna em espetáculo protecionista.

A situação política foi tema do podcast O Assunto, em conversa entre Natuza Nery e o cientista político Carlos Melo, do Insper. “O racha no núcleo bolsonarista expõe fragilidades que vão definir candidaturas ao Palácio do Planalto em 2026”, disse Carlos Melo. Ele aponta corretamente para o impasse dos governadores que apoiam Bolsonaro: são aliados que precisam avaliar se o custo de permanecer atrelado ao ex-presidente compensa diante de uma opinião pública cada vez mais crítica. A máquina do bolsonarismo mostra-se menos coesa; e quando ela racha, sobra com violência para o país inteiro.

As reações dentro do próprio campo conservador são reveladoras — e risíveis. Valdemar Costa Neto chega a decretar que “Trump é única saída que temos” para justificar a narrativa em torno da condenação de Bolsonaro: “Trump é única saída que temos”, diz Valdemar Costa Neto. Já o governador Tarcísio afirma que o ex-presidente vive uma “grande injustiça”: “vive ‘grande injustiça'”, disse Tarcísio. Palavras soltas no vento quando os números dizem outra coisa. O que era para ser defesa política transforma-se em autoisolamento diante de eleitores que buscam respostas concretas para problemas reais — emprego, serviços públicos, soberania econômica.

Essa conjunção entre desgaste interno e ataques econômicos vindos de Washington — lembrando que o tarifaço de 50% foi justificado por Trump com a história da “perseguição” — deixa claro que a direita brasileira, comandada por uma família e por interesses privados, está vulnerável. O momento exige mais que retórica: pede projeto de país, defesa das estatais e enfrentamento aos bilionários que enxergam no caos político um negócio redondo.

Se o campo progressista quer transformar esse desgaste em oportunidade, cabe a nós, militantes e partidos aliados ao povo, articular resposta clara: recuperar a narrativa nacional, reafirmar a importância das estatais como instrumentos de soberania, e construir uma alternativa que não seja apenas antifascista, mas anticapitalista em prática. A questão não é apenas expulsar a direita do palco; é ocupar o espaço com um projeto popular autêntico. Como seguir permitindo que bilionários e mercados decidam o destino do Brasil enquanto deixamos a política em piloto automático? A hora é de luta e organização — e Lula e o PT, com todos os seus debates e limites, continuam sendo peças centrais nesse esforço de transformar a indignação em poder real.

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