O União Brasil resolveu apressar a sua dança das cadeiras: antecipou para a próxima terça-feira (2) a discussão sobre o desembarque de cargos que seus filiados ocupam no governo Lula. Não é surpresa que a sigla, herdeira de velhas oligarquias e de um conservadorismo pragmático, trate nomeações como moeda de troca — a novidade é que o próprio presidente da República puxou a corda e mostrou quais alianças serão toleradas neste novo tempo político.
“Essa reunião [da executiva] já estava marcada, já era de conhecimento de todos, mas as falas do presidente Lula fizeram com que a gente antecipasse essa discussão. Vamos discutir uma diretriz para que os ministros deixem as pastas e os cargos sejam entregues” — declarou ACM Neto, vice-presidente do partido, tentando justificar o adiamento como se fosse um gesto de firmeza e não um conserto de emergência.
O que está em jogo
Dirigentes do União Brasil prometem que a resolução tem como objetivo impedir a participação de filiados no governo, e chegam a afirmar que a continuidade em cargos na administração Lula pode ser tratada como ato de infidelidade partidária — com risco até de expulsão. Traduzindo: mais uma vez, a direita prefere disciplinar os caciques e punir quem não segue à risca a cartilha dos acordos de bastidor do que enfrentar politicamente o campo popular.
Na prática, a discussão mira diretamente Celso Sabino, do Turismo, único ministro oficialmente filiado ao União. Mas sabe como é: as cartas marcadas sempre têm nomes extras. Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) e Frederico Siqueira (Comunicações) também ocupam pastas em “cotas” atribuídas ao partido, embora tenham sido indicados por Davi Alcolumbre — aquela figura do centrão que só aparece para distribuir cargos. Quem ganha com essa confusão? Definitivamente não o povo. Ganham os acordos, perdem as políticas públicas.
A “gota d’água”, segundo membros da base do governo, teria sido a reunião ministerial conduzida por Lula na terça-feira (26), quando o presidente cobrou publicamente posicionamento claro dos ministros aliados: ou defendem o governo e suas medidas, ou chegam-se às portas. Foi um recado duro e necessário. Lula mostrou que só há espaço para quem está com o povo.
A pressa do União em antecipar o debate também tem cheiro de desespero. As duas legendas — União Brasil e Progressistas — oficializaram a federação partidária recentemente e planejavam decidir o desembarque mais adiante. Mas, diante da pressão política e do recado presidencial, o União optou por agir sozinho, talvez para marcar uma posição interna antes que a federação esteja juridicamente formalizada. Traduzindo em miúdos: o jogo é de vaidades e cálculo eleitoral, não de coerência política.
Para nós, que militamos pelas transformações estruturais no país, essa movimentação evidencia duas coisas claras: primeiro, o pavor das velhas oligarquias frente a um projeto de governo que retoma o papel do Estado e valoriza estatais e políticas públicas contra a pilhagem privatista; segundo, a necessidade de manter vigilância e pressão sobre alianças que se montam por cima, muitas vezes com a lógica do toma-lá-dá-cá.
No fim das contas, o debate do União Brasil é menos sobre “fidelidade partidária” e mais sobre quem manda de fato no comando dessas legendas — e se ainda vale algum compromisso com os interesses populares ou apenas com grandes doadores e grupos econômicos. Lula deu o recado: ou estão com o governo e com o povo, ou não estão. Resta saber se o União prefere seguir sua base ou ceder aos velhos acordos que sempre serviram aos ricos e aos poderosos.
Que venha a executiva do dia 2. Será um termômetro: vão seguir com a política de cargos e conveniências ou a pressão do campo progressista e da população forçará uma escolha real? A hora é de colocar cada um no seu lugar — e não há lugar para bajulação aos ricos quando se tem um projeto nacional e popular pela frente.