O ministro Cristiano Zanin marcou para 2 de setembro o início do julgamento que pode colocar Jair Bolsonaro e sete réus no banco dos acusados por tentativa de golpe. Não é somente mais um calendário jurídico: é um momento de enfrentamento político com implicações históricas. Enquanto parte da direita rezava para que o tempo apagasse a verdade, a Justiça avança — e o país precisa acompanhar cada sessão, cada argumento, cada voto.
Calendário do julgamento
O cronograma já foi anunciado e as sessões ocorrerão ao longo de duas semanas. Anote na agenda e venha ver quem tem medo da luz:
– 2 de setembro – 9h às 12h e 14h às 19h
– 3 de setembro – 9h às 12h
– 9 de setembro – 9h às 12h e 14h às 19h
– 10 de setembro – 9h às 12h
– 12 de setembro – 9h às 12h e 14h às 19h
Não é casualidade: foram marcadas audiências em dias e horários para que o processo seja debatido com profundidade. Será uma oportunidade para a sociedade ver quem tentou subverter a República e por que.
Quem são os réus?
Além de Jair Bolsonaro, que responde como cabeça do grupo, o chamado “núcleo 1” reúne figuras centrais do bolsonarismo militarizado e palaciano: os ex-ministros Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Braga Netto (Casa Civil) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa); o ex-comandante da Marinha Almir Garnier; o ex-diretor da ABIN Alexandre Ramagem; e Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Esses nomes representam a confluência entre milícia, aparato de Estado e fanatismo político que tentou transformar derrota eleitoral em quebra da ordem democrática. Quem imaginava que bastava uma eleição para varrer a ambição autoritária se enganou feio.
Crimes atribuídos e consequências
A Procuradoria-Geral da República descreve Bolsonaro como o “principal articulador, maior beneficiário e autor” das ações destinadas a manter-se no poder após a derrota eleitoral. Entre as acusações estão organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. São acusações graves, que não cabem em manchetes amassadas por desinformação — tratam de crimes que atentam contra o próprio regime democrático.
Se condenados, as penas podem somar até 43 anos de prisão no cômputo máximo das hipóteses levantadas pela PGR. Além disso, o julgamento poderá determinar penas civis e administrativas: perda de cargos públicos, inelegibilidade e indenizações por danos ao patrimônio público. Importante lembrar: essas consequências dependem do que os ministros fixarem na decisão, não são automáticas.
Como será o julgamento? A denúncia será apreciada por um colegiado do Supremo Tribunal Federal (STF), formado por cinco ministros sorteados para compor o tribunal especial. Os ministros vão decidir pela absolvição, que arquiva o caso, ou pela condenação, que fará cessar a impunidade. Não se trata apenas de punir indivíduos; trata-se de reafirmar que no Brasil as regras valem para todos — inclusive para aqueles que sonharam em rasgar a Constituição.
O processo será palco de provas, depoimentos e argumentos jurídicos, mas também de demonstrações políticas. A tática do bolsonarismo, desde o dia seguinte à derrota, foi confundir, radicalizar e testar os limites do aparato do Estado. Agora, o Estado juridicamente reage — ou demonstra sua fragilidade.
Que lição tirar desse momento? O julgamento é uma vitória provisória da democracia, fruto da mobilização institucional, do trabalho da PGR e da vigilância da sociedade. Não bastará a condenação judicial para desmantelar a direita autoritária: é preciso uma ofensiva política e social que avance na disputa de hegemonia — fortalecendo as estatais, defendendo direitos sociais e consolidando um projeto popular que não dependa da benevolência de elites nem do voto de latifundiários midiáticos.
As datas estão marcadas. A luta política continua nas ruas, nas redes e nas urnas. Se quiseres defender a República, não basta esperar o veredito: participe, cobre transparência, fortaleça as instituições democráticas e empurre o país para além das reformas cosméticas. Quem pensa que a República se sustenta sozinha está redondamente enganado — e esse julgamento é a prova de que vigilância e organização popular são requisitos inegociáveis para derrotar a histórica ofensiva da direita.