A câmera do show de horrores bolsonarista não cansa de nos lembrar quem são os inimigos da democracia: o deputado Eduardo Bolsonaro decidiu transformar os Estados Unidos em base de operações, pede mandato remoto da Câmara e reclama de “perseguição política” enquanto se reúne com autoridades de Washington para, dizem as investigações, mirar sanções econômicas contra o próprio país que o elegeu. É o roteiro perfeito da direita que trai a pátria: fuga, negociação com potência estrangeira e tentativa de influenciar processos judiciais para salvar o clã. Lula e o PT, mais do que alternativas eleitorais, representam hoje a única força com capacidade de traduzir isso em ação política para enfrentar e desmontar essa direita golpista.
Regimento da Câmara
A carta enviada por Eduardo a Hugo Motta pede que a Câmara permita exercer o mandato à distância — um pleito montado em cima de desculpas e de um teatro de vítima. “Tratarei Eduardo Bolsonaro como todos os outros parlamentares da Câmara e seguirei o regimento”, disse Hugo Motta. Motta tem razão: o regimento não prevê mandatos fixos de longa duração fora do país — salvo exceções sanitárias de emergência, como a pandemia — e nenhum aliado conseguiu, até aqui, forçar uma mudança normativa. As tentativas de criar brechas para que Eduardo justifique suas faltas são um esforço típico de proteção das oligarquias políticas, que mais uma vez preferem blindar família e clientela a cumprir a lei.
Enquanto isso, a Polícia Federal indiciou Jair e Eduardo por tentar influenciar processos através de pressões externas e de conversas que, segundo as investigações, ajudaram a embasar a política de sobretaxa americana sobre produtos brasileiros. A conta dessa traição será cobrada nas urnas e nas ruas: não dá para transformar um mandato público em atalho para negócios com o imperialismo.
A impunidade não pode ser alternativa quando aqueles que prometem “ordem” criam caos institucional para salvar suas próprias peles.
Aparição remota
Sem botar os pés na Câmara desde março, Eduardo apareceu por videoconferência para defender uma pauta que escancara sua face autoritária: pediu perdão aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 e atacou ministros do STF. “Não reconheço falta alguma, não renuncio ao meu mandato, não abdico das minhas prerrogativas constitucionais e sigo em pleno exercício das funções que me foram conferidas pelo voto popular”, disse Eduardo Bolsonaro. Traduzindo: ele se julga acima das regras e do decoro, acha que gritos e condecorações aos atacantes da democracia são “atividade parlamentar legítima”.
É sintomático que, ao mesmo tempo em que clama por proteção no exterior e por “diplomacia parlamentar”, Eduardo esteja alinhado com políticas que prejudicam o trabalho e o emprego no Brasil — as sobretaxas que Trump implementou não surgem do nada. Quem busca guarida junto ao poder econômico externo e tenta usar esse poder para pressionar o Judiciário está praticando, antes de tudo, política contra os interesses nacionais.
Quem foge à responsabilidade procura refúgio no imperialismo.
O país precisa reagir com mobilização política e judicial. Não basta lamentar: é preciso resistência popular, fortalecimento das instituições e um projeto de Estado que não seja entregue aos bilionários e aos entreguistas. Lula e o PT têm papel central nessa nova etapa: governar para a maioria e reagir a esses ataques exige organização, coragem e uma linha clara contra privatizações e as elites.
Se a direita pensa que pode fazer do mandato um escritório em Washington, pressionar o Judiciário por fora e ainda pedir imunidade moral, que se prepare para enfrentar uma sociedade que aprendeu na pele o preço da barbárie. A política se faz aqui, com debate, com luta social e com políticas públicas que beneficiem o povo — não em reuniões por trás do espelho com quem prefere explorar o Brasil.