A proposta orçamentária enviada ao Congresso para 2026 trouxe mais um espetáculo da pantomima política: enquanto a direita raivosa e os donos do dinheiro clamam por “ajustes” e corte de direitos, o Congresso encaminha R$ 1 bilhão para o Fundo Especial de Financiamento de Campanha. Sim, leu certo: R$ 1 bilhão para financiar campanhas em 2026 — e tudo isso saindo da chamada “reserva para emendas de bancada”. Que coincidência confortável, não é mesmo?
Fundo eleitoral, emendas e teatro parlamentar
O Fundo Eleitoral, famoso por ser a caixa de maquiagem das eleições, foi criado para dar alguma previsibilidade ao financiamento das campanhas. Só que, na prática, transformou-se em instrumento de barganha: o governo propôs R$ 940 milhões em 2024 e o Congresso, com aquela generosidade que só o bolso público permite, elevou para absurdos R$ 4,9 bilhões — recorde absoluto! Agora, para 2026, a equipe econômica manda R$ 1 bilhão, com a esperta indicação de que o dinheiro virá da tal reserva para emendas de bancada. O dinheiro sairá da reserva para emendas de bancada, que deveria servir para investimentos locais, saúde, educação e obras nos estados.
As emendas parlamentares, vale lembrar, são o instrumento que permite a deputados e senadores destinar verbas do Orçamento federal para suas bases eleitorais. Em 2024, o governo propôs R$ 40,8 bilhões de emendas; segundo o Ministério do Planejamento, sem o fundo eleitoral essa previsão subiria para R$ 41,8 bilhões. Ou seja: a matemática das elites políticas se resolve sempre para que ninguém perca — exceto a população que precisa de serviços públicos decentes.
Enquanto isso, nas páginas do mesmo projeto, aparecem números que soam como promessas de estabilidade: o salário mínimo projetado é de R$ 1.631 para 2026, um aumento de 7,44% sobre os atuais R$ 1.518 — e ainda sujeito ao INPC de novembro. A previsão de superávit é de 0,25% do PIB (cerca de R$ 34,3 bilhões), com a já conhecida margem de manobra do arcabouço fiscal que permite “flexibilizações” e exclusões contábeis. Aliás, o texto prevê que o governo pode excluir R$ 57,8 bilhões desse cálculo — despesas que incluem o pagamento de precatórios — quando for conveniente. Conveniente para quem? Para quem manda no jogo, claro.
É revoltante ver o mesmo Parlamento que finge proteger os cofres públicos abrir mão de recursos essenciais para remunerar campanhas e manter as velhas clientelas políticas. E não venham com a ladainha de “igualdade de condições”: enquanto bilionários financiam e controlam meios e narrativas, o financiamento público, mal regulado, vira apenas mais um balcão de negócios.
Mas não devemos ser ingênuos: há, sim, uma vantagem estratégica em regulamentar e fortalecer o financiamento público para reduzir o poder do dinheiro privado e dos oligarcas! A diferença é que esse financiamento precisa ser transparente, condicionado a critérios que favoreçam projetos de interesse popular e direcionado, sobretudo, para fortalecer organizações que realmente representem a luta dos trabalhadores e das periferias — não para sustentar monopólios partidários.
O nosso desafio é enorme. Precisamos combater o bolsonarismo e a direita que promove privatizações e entrega o país aos grandes grupos econômicos; precisamos, ao mesmo tempo, pressionar por um uso do dinheiro público que não legitime velhas raposas do Legislativo. Lula e o PT são fundamentais nessa batalha, não como fim, mas como ferramenta para avançar numa agenda que recupere as estatais, proteja empregos e dialogue com os movimentos sociais. Não aceitamos que a esquerda se acomode num palco armado pelos interesses conservadores.
A disputa pelo orçamento e pelo financiamento das campanhas não é técnico: é profundamente política. Mostrar onde está o dinheiro, para quem ele serve e quem lucra com ele é parte da luta. Se querem disputar o poder com igualdade, que seja com transparência e com projetos que tirem o país da lógica do mercado e dos bilionários — ou então que se abram mão desses disfarces e deixem clara a subserviência aos poderosos. Nós, do campo popular, não aceitaremos menos.