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Lula e os atritos diplomáticos: semelhanças e diferenças nas tensões com EUA, Israel e Venezuela

Desde que retomou a Presidência para o terceiro mandato, Lula tem usado sua cadeira como palanque internacional — não por vaidade pessoal, mas porque sabe que a luta contra o imperialismo e o neoliberalismo também se trava fora das fronteiras. Essa diplomacia presidencial tem provocado atritos com Washington, Tel Aviv e Caracas, expondo tanto a coragem de um governo que rejeita subserviência quanto as limitações de um país que precisa reconstruir peso geopolítico perdido. O jogo é duro: quem acha que a política externa é conversa de embaixador deve acordar para a realidade de que, hoje, política externa é luta de classes em escala global.

Semelhanças

Em todos os três casos, um elemento chama atenção: os líderes simplesmente não se falam. A falta de contato direto com Trump, Netanyahu e Maduro sinaliza mais do que desencontros pessoais — é um sinal de conflito aberto entre projetos de país. Quando um presidente se recusa a ser subalterno, vira alvo de chantagem comercial. Foi o que se viu com o tarifaço estadunidense: 50% sobre produtos brasileiros aplicado por uma administração que, entre discursos patrióticos e ataques a instituições brasileiras, ainda tenta bancar o xerife do hemisfério.

Também emergiu uma onda de desinformação e ataques políticos. Trump diz que a balança comercial é desfavorável aos EUA — uma meia-verdade que vira arma; Netanyahu chama Lula de “apoiador do Hamas” enquanto o Brasil repudia ataques de ambos os lados; e Maduro, acuado pela cobrança de transparência eleitoral, passa a divulgar inverdades sobre nosso sistema de votação. Mentiras e pressão: a cartilha clássica dos que não respeitam a autodeterminação dos povos.

“Se o Trump quiser negociar, o ‘Lulinha paz e amor’ está de volta”, disse Lula. E, quando definiu como “genocídio” o que ocorre em Gaza e o chanceler Mauro Vieira falou em “carnificina”, o governo brasileiro deixou claro que não enveredará pelo caminho fácil do silêncio cúmplice. “Há uma carnificina em curso”, afirmou o chanceler Mauro Vieira.

Diferenças

Os atritos têm origens distintas. Com os Estados Unidos, a tensão nasceu do bolso (tarifas) com pitadas de política — e da inaceitável postura de Trump de se meter em assuntos jurídicos internos brasileiros. Com Israel, o embate é diplomático e moral: Lula comparou o que ocorre em Gaza às atrocidades nazistas, provocando reação furiosa de Netanyahu e sua equipe. Quanto à Venezuela, o conflito tem natureza política e ideológica: a exigência brasileira por transparência nas eleições revelou-se um choque entre dois autoritarismos em disputa.

“Houve uma quebra de confiança”, declarou Celso Amorim, assessor especial do presidente para assuntos internacionais, sobre a relação com a Venezuela.

Como a diplomacia tem lidado

A resposta do Brasil não foi uniforme — e com razão. Com os EUA, o Itamaraty tem buscado canais técnicos e acionou a OMC; com Israel, houve rebaixamento de relações diplomáticas; e com Caracas, o recuo de interlocuções ilustra a perda de uma antiga afinidade petista com Maduro. A estratégia é pragmática, mas também política: defender a soberania e negociar acordos que garantam interesses nacionais e humanitários, desde a entrada de ajuda à Faixa de Gaza até a proteção de setores industriais ameaçados pelas tarifas.

“Se o objetivo for angariar apoio interno, o tom duro passa uma imagem mais poderosa”, ponderou o professor Amâncio Jorge (USP). “Para o objetivo de mitigar, ainda que não resolva completamente [o tarifaço], o tom dificulta. Então, depende muito de qual é o objetivo.”

O diagnóstico é duro: o Brasil quer protagonismo mas ainda não tem total capacidade de mediação global — e isso exige investimento, coerência e paciência política. Não dá para fingir que somos grandes enquanto entregamos setores estratégicos aos interesses privados e deixamos as estatais serem enfraquecidas.

Lula e o PT têm uma tarefa histórica: defender o país contra tentativas de subjugação econômica, combater a desinformação e avançar um projeto popular que recupere soberania e soberania tecnológica. A diplomacia petista pode e deve ser combativa sem se transformar em improviso — é preciso fortalecer estruturas, articular alianças com países do Sul e traduzir esse embate internacional em políticas concretas para o povo brasileiro. Afinal, se a meta é transformar o Brasil, não há neutralidade possível: ou se está com os poderosos, ou com o povo!

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