O primeiro dia do julgamento do núcleo crucial da trama golpista cheirou a pólvora e exibiu, com clareza, quem são os articuladores do retrocesso e quem ainda tenta sustentar essa farsa. Na 1ª Turma do STF, Alexandre de Moraes abriu a sessão defendendo a independência da Corte e respondendo às pressões internas e externas — inclusive as tentativas de intimidação feitas lá fora — enquanto o procurador-geral Paulo Gonet destrinchava a peça acusatória. Do outro lado, as defesas correram para montar cortinas de fumaça. O país, porém, assiste e não esquece: é hora de justiça, não de negociação com golpistas.
O recado de Moraes e o ataque externo
Moraes não foi silencioso: denunciou uma organização criminosa que atuou até no exterior para tentar submeter o funcionamento da Corte a interesses estrangeiros. “Uma verdadeira organização criminosa que, de forma jamais vista anteriormente em nosso país, passou a agir de maneira covarde e traiçoeira…” — Alexandre de Moraes. O ministro lembrou que a soberania nacional não é troféu de barganha: “A soberania nacional jamais será vilipendiada, negociada ou extorquida”. — Alexandre de Moraes.
Não por acaso, o episódio das sanções relacionadas à Lei Magnitsky — uma sandice diplomática do governo Trump contra um ministro do STF — entrou no enredo. Quem pensa que intimida a República com ameaças internacionais ainda não entendeu que estamos diante de instituições que não recuam. Não há neutralidade moral entre quem quer derrubar a democracia e quem a defende — ou se está com a barbárie ou se está com a Constituição!
Paulo Gonet desmonta a farsa
O procurador-geral foi cirúrgico: listou evidências de ataques às urnas, ameaças ao Judiciário, plano para assassinar autoridades, uso indevido da PRF, instrumentalização da Abin, encontros golpistas e até atos que cheiraram a terrorismo. Sua mensagem foi direta: não é necessária uma canetada assinada para caracterizar tentativa de golpe — bastam atos, planos e a tentativa prática de romper com a ordem democrática. “Para que a tentativa se consolide, não é indispensável que haja ordem assinada pelo presidente… A tentativa se revela na prática de atos e de ações dedicadas ao propósito da ruptura das regras constitucionais” — Paulo Gonet.
Gonet pediu a condenação de todo o núcleo crucial. E não é por birra institucional: é porque não punir a tentativa de golpe alimenta futuros impulsos autoritários. Quem acredita que rever o tamanho da impunidade é “exagero” está, na melhor das hipóteses, desentendido da história brasileira recente.
As defesas: versões, evasivas e a velha tática de relativizar
As falas das defesas variaram entre a tentativa de minimizar provas, negar vínculos e confundir conceitos. A defesa de Mauro Cid pediu a manutenção da delação e negou coação; defesa de Ramagem afirmou que ele não participava do governo no período apontado; a defesa de Anderson Torres alegou viagem de férias e disse que a minuta do golpe era apócrifa. Almir Garnier teve a estratégia de questionar o nexo causal de suas ações. Em cena, o barulho das mesmas justificativas que vimos após o 8 de janeiro.
A ministra Cármen Lúcia não deixou passar um equívoco retórico de um advogado que confundiu “voto impresso” com “processo auditável”. Ela corrigiu com firmeza: “Uma coisa é a eleição com processo auditável, outra coisa é o voto impresso” — Cármen Lúcia. É preciso lembrar: desinformação eleitoral foi combustível essencial nessa trama.
O julgamento segue e o calendário está marcado: defesas ainda terão espaço, mas o ritmo da história muda quando a sociedade exige responsabilidades. A transmissão ao vivo (g1) mantém todo mundo de olho — e é bom que seja assim. Se a direita golpista tentou chantagear, exportar ódio e calar a Justiça, encontrará agora a resistência organizada de quem não se curva.
A cada dia de sessão fica mais claro que não se trata apenas de barganha política: trata-se de enfrentar um projeto autoritário que queria destruir instituições. Lula e o PT, longe de serem meros protagonistas eleitorais, aparecem como atores centrais na tarefa de reconstruir a democracia e derrotar o bolsonarismo institucional. Resta a pergunta: vamos permitir que a impunidade volte a abrir caminho para novos assaltos ao país, ou vamos compactuar com a história? O tribunal decide, a memória do povo julga, e a militância democrática não dará trégua.