luta socialista

“E o Bivar, como tá?”: o questionamento de Lula que selou a ruptura com o União Brasil

O encontro entre Lula e Antônio Rueda foi curto, tenso e suficiente para escancarar o que já era óbvio para quem acompanha a política brasileira: a convivência com a direita liberal e fisiológica do União Brasil tornou-se insustentável. O episódio — que começou com declarações diante de 38 ministros e terminou com o desembarque formal do União Brasil e do Progressistas do governo — é uma boa fotografia do choque entre um projeto de governo que busca retomar políticas públicas e um bloco político cujo compromisso maior é com o mercado e com a manutenção de privilégios.

A conversa que queimou a ponte

Relatos dos presentes dizem que Lula fez questão de dizer, sem rodeios, que não simpatiza com Rueda, e que dos dois o sentimento não era recíproco. Foi o tipo de gesto político que não se apaga com notas oficiais. Em reunião ministerial, Lula cobrou dos nomes ligados ao União Brasil e ao Progressistas: queriam permanecer nos cargos? Então defendam as pautas do governo. O recado foi claro e inesperado para alguns: ou se alinhavam com o projeto governista, ou deveriam abrir a janela e sair. Lula não perdoa quem atrapalha as reformas sociais e o avanço dos interesses populares!

O único encontro presencial entre os dois, em 26 de junho, um dia após a vitória da Câmara contra o decreto que regulamentava o IOF, foi suficiente para enterrar qualquer possibilidade de entendimento. A conversa foi dura: Lula criticou a falta de apoio às pautas do governo e reagiu às acusações do mercado sobre responsabilidade fiscal; Rueda rebateu com queixas sobre a política fiscal. Mas o que marcou mesmo foi a despedida do presidente, que atirou, com precisão cirúrgica, uma pergunta que virou munição política: “E o Bivar, como tá?” — Luiz Inácio Lula da Silva. Aliados interpretaram a pergunta como uma provocação calculada, um recado público de desconfiança.

A guerra interna entre Rueda e Luciano Bivar — com acusações graves de incêndio em imóveis e ameaças de morte que Bivar negou — expôs o caráter putrefato de boa parte da direita partidária no país. Rueda ficou visivelmente constrangido; era o sinal de que não havia mais clima para convivência. Não estamos falando de desacordos programáticos; é disputa por poder pessoal e por planos que sempre privilegiam o capital em detrimento do povo.

O desfecho era previsível: na terça-feira (2), União Brasil e Progressistas anunciaram o desembarque do governo. Os ministros Celso Sabino (Turismo, União Brasil) e André Fufuca (Esporte, PP) têm até o final de setembro para entregar os cargos. Trata-se de uma retirada formal que, para nós da militância, só deixa uma sensação de alívio: quem nunca esteve do lado do povo se despede, sem saudade.

“Ninguém é obrigado a ficar no governo, mas quem permanecer tem de estar ao lado das pautas governistas.” — Gleisi Hoffmann

A declaração de Gleisi Hoffmann é a tradução política do que deveria ser o óbvio: ministério não é clube social nem balcão de negócios. Se pretende governar, submeta-se ao projeto que elegeu Lula e ao compromisso com as necessidades populares. Se não, a porta está aberta. A saída do União Brasil e do PP é a prova de que o centro-direita prefere o alinhamento com o mercado a qualquer projeto de transformação social.

Para além do espetáculo de vaidades e intrigas internas da direita, o episódio deixa lições práticas: o campo democrático precisa se organizar e fortalecer sua base social; o governo tem de cercar-se de quem de fato vá defender as reformas e as estatais, combater privatizações e enfrentar os bilionários que lucram com o país. E nós, do campo popular, precisamos aproveitar o instante para endurecer a batalha ideológica, mostrar quem está do lado de quem e construir uma alternativa que não dependa de acordos com quem nunca teve compromisso com o povo.

A direita racha, se expõe e se retira — que assim seja. Resta a tarefa urgente de ampliar a frente democrática e popular, consolidar a rebeldia institucional e transformar a política num instrumento verdadeiramente a serviço da maioria. Afinal, não é hora de conciliação com os que sempre estiveram ao lado dos poderosos; é hora de intensificar a luta!

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