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Cármen Lúcia questiona defesa: “Demover Bolsonaro de quê?” no julgamento da trama golpista

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal começou a destrinchar essa semana, com a solenidade que se esperava e também com o teatro que a direita adora transformar em espetáculo, a chamada “Trama Golpista”. No centro do palco, além dos réus milicos e do presidente deposto, o que saltou aos olhos foi um momento quase cômico — se não fosse trágico para a democracia brasileira — em que a ministra Cármen Lúcia interrompeu a defesa com uma pergunta que resume o absurdo da narrativa de inocência construída para proteger cúmplices do golpe.

Durante a fala do advogado Andrew Fernandes, que tenta inocentar o general e ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, a defesa repetia a ladainha de sempre: o ministro buscava demover Jair Bolsonaro de medidas extremas. No encerramento da fala, a ministra fez o que muitos de nós também gostaríamos de perguntar em voz alta no meio dessa farsa. “Demoveu de quê?” — perguntou Cármen Lúcia. E Fernandes, com a mesma elegância de quem faz malabarismo com a verdade, respondeu: “De qualquer medida de exceção”.

O julgamento, que teve início na terça-feira com manifestações do relator Alexandre de Moraes e do procurador-geral da República, Paulo Gonet — este último pedindo a responsabilização e a demissão de todos os envolvidos — reúne nomes pesados do bolsonarismo que compuseram o núcleo da conspiração: Jair Bolsonaro, Almir Garnier, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira, Walter Braga Netto, Anderson Torres, Alexandre Ramagem e Mauro Cid. Não é uma lista simbólica; é o mapa de um projeto que tentou, com a ajuda de forças armadas e dispositivos do Estado, subverter o voto popular.

O que a pergunta de Cármen Lúcia desnuda é simples: há uma diferença real entre “desestimular” um golpe e participar de uma trama que coordena ações, estratégias e comunicações para sabotar instituições? Ou será que estamos diante daquela velha justificativa: “não sou eu quem puxa o gatilho, só emprestei a arma”? Não podemos aceitar esse jogo de cena! Não há “demover” que justifique a montagem de um plano para rasgar a Constituição!

Os defensores do bolsonarismo tentam transformar o julgamento em disputa retórica, enquanto nos bastidores o que se negocia é o futuro da soberania nacional, das estatais e da segurança social. A direita golpista sempre teve duas faces: a do discurso antiestatal quando convém atacar serviços públicos, e a da proteção militar quando precisa se perpetuar no poder. Nós sabemos de que lado estamos: contra as privatizações, a favor das empresas estatais e da democracia popular! Não permitiremos que corruptos e generais se deem ao luxo de reescrever regras para continuar enriquecendo os mesmos de sempre.

E mais: é necessário que o campo progressista não se limite à indignação judicial. Lula e o PT representam hoje, sim, uma alternativa eleitoral e política que precisa ser aprofundada — não como um fim em si, mas como um instrumento para iniciar uma nova etapa de luta anticapitalista e de maior protagonismo popular na construção das políticas públicas. Cabe ao movimento social e à esquerda pressionar por reformas reais, desmilitarização da política e reforço das instituições contra futuros ensaios golpistas.

A sessão na Primeira Turma é apenas um capítulo dessa batalha. O julgamento pode punir responsabilizando indivíduos, mas a verdadeira derrota do bolsonarismo passa por desmontar suas redes, suas narrativas e garantir que o Estado seja, de fato, um instrumento a serviço das maiorias, não um aparato a serviço de oligarquias e bilionários. E para isso temos que sair das arquibancadas e ocupar ruas, sindicatos, conselhos e parlamentos!

A pergunta de Cármen Lúcia ecoa: demover de quê? A resposta verdadeira está nas ruas, nos processos e nas urnas — e é preciso coragem para enfrentá-la. O processo no STF é necessário, mas que sirva de ponto de partida para uma ofensiva democrática, antineoliberal e antirracista que efetivamente devaste a capacidade de retorno desses golpistas ao poder. Lutemos!

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