Começou com “centro” no currículo e agora tenta atravessar o rio bravo agarrado ao bote furado de Bolsonaro. Tarcísio de Freitas construiu sua vitória em São Paulo vendendo civilidade e eficácia técnica — a mesma retórica que seduz o eleitor de classe média e o mercado — e hoje vê-se enredado numa aliança com o bolsonarismo que cheira a traição eleitoral. O que estamos vendo não é conversão por convicção, é transação política: troca-se o centro por uma anistia que reabilita golpistas e legitima a barbárie do 8 de janeiro. Quem ganha com isso? A extrema-direita. Quem perde? A democracia e, claro, quem acreditou no “centro” vendido nas urnas.
O eleitor no centro
Tarcísio aposta que ser fiel ao clã bolsonarista vai garantir uma base sólida; imagina que, ao abraçar a anistia, conquista o núcleo duro do PL e amplia seu capital político junto ao eleitor reacionário. Mas será que serve de estratégia para 2026? Pergunta simples: quantos votos do chamado eleitor pêndulo você perde pelo caminho ao trocar o boné do moderado pelo boné do fanático? A resposta é óbvia. Quem se aproxima do fascismo não atrai o centro — ele o repele.
A experiência histórica é clara: para ganhar uma eleição presidencial no Brasil é preciso conversar com o centro e, sobretudo, neutralizar o medo das elites e do mercado. Lula entendeu isso — caminhou ao centro sem abandonar a classe trabalhadora e mostrou que pactos táticos podem servir a um projeto maior. Até Bolsonaro, em 2018, compôs alianças que “palatabilizaram” sua candidatura. Tarcísio venceu em São Paulo porque fez campanha de centro; agora, ao se enlaçar com quem participou do ataque ao Estado democrático, ele caminha para a contradição fatal entre discurso e prática.
Mas não nos iludamos: esse é um problema que extrapola a mera disputa por votos. A anistia que eles defendem não é uma pauta legal neutra, é um perdão político àqueles que tentaram derrubar a ordem constitucional! Perdoar golpistas é crime de lesa-democracia. Isso transforma Tarcísio em algo muito além de um oportunista eleitoral: em adesista da ruptura democrática. E adesismo, como bem sabemos, é combustível para a barbárie.
Agora, algumas verdades que a direita não quer ouvir: o Brasil não precisa de capitualações ao mercado nem de privatizações que entregam nossas estatais aos bilionários que financiaram o golpe cultural. Precisamos fortalecer o setor público, recuperar o papel estratégico das empresas estatais e construir um projeto popular que enfrente os de verdade os ricos e seus interesses. Nesse sentido, Lula e o PT — pela experiência, capacidade de governar e força nas ruas — são peças centrais em uma nova etapa de luta anticapitalista no Brasil. Não são perfeitos? Claro que não. Mas negar isso é fechar os olhos ao fato de que, sem um projeto popular hegemônico, a direita volta, sempre mais agressiva.
A equação é simples: ou Tarcísio volta às origens de sua campanha e reconquista o eleitor moderado, ou segue se afundando em alianças que o reduzam a fantoche do bolsonarismo. E mesmo se ele conseguir recuar, restará a pergunta incômoda: como confiar num político que troca de caráter conforme a conveniência?
O país precisa de clareza: derrotar a direita exige firmeza, não conciliações com os que querem capturar o Estado. Isso vale para Tarcísio, para qualquer governador que flerta com o neofascismo e para quem ainda acredita que é possível salvar a democracia com meia-medida. Se o objetivo é ganhar a Presidência para avançar, é preciso mais do que voltar ao centro: é necessário retomar a política como instrumento de transformação social, recuperar o Estado para o povo e desmantelar as redes que financiam e naturalizam o ódio. Afinal, democracia não se reconstrói com anistia aos golpistas — se reconstrói com luta, justiça e projeto popular!