Foi consenso entre os ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal: será preciso um dia extra para concluir o julgamento da chamada Trama Golpista. O anúncio feito na manhã desta sexta-feira (5) confirmou que a quinta-feira da semana que vem foi reservada como margem de segurança — um gesto burocrático que, na prática, é um tapa na cara da farsa golpista e na arrogância militar que tenta se proteger atrás de longas falas e manobras processuais.
Os advogados dos generais réus já encerraram suas argumentações, mas a expectativa é que alguns ministros façam votos extensos. A medida atende à lógica mínima de qualquer tribunal sério: tempo para análise, calma para ponderar e evitar atropelos que alimentem teorias conspiratórias. É preciso tempo para desmontar mentiras e responsabilizar os envolvidos. A possibilidade de discursos longos, tanto de defesa quanto de magistrados, levou a turma a garantir folga no calendário — cada ministro poderá ter uma margem para preparar seu voto ou estender suas considerações sem que o processo tombe por pressa.
Além do aspecto técnico, há um componente político evidente: a direita golpista e seus bufões de plantão tentam transformar julgamentos em palcos de espetáculo. A tática de alongar debates é conhecida: ganhar espaço na mídia, mobilizar redes de ódio, e adiar o peso das consequências. Não à toa, um dos ministros sintetizou a posição do colegiado: “Melhor prevenir do que remediar. Mas não acredito que vamos precisar de todas as sessões”, disse ao blog um ministro do Supremo. Essa prudência é necessária justamente porque estamos lidando com quem tentou, de maneira escancarada, subverter a vontade popular e enfraquecer as instituições republicanas.
O acréscimo de um dia não significa leniência; significa responsabilidade. Judicializar a política e politizar a justiça são dois riscos constantes, e ambos são carteiras de identidade do bolsonarismo. Enquanto operadores do golpe flertam com a impunidade, quem defende o país deve empunhar a paciência e o rigor jurídico. A democracia não se apressa quando enfrenta quem tentou derrubá-la. Se a turba de extrema direita quer espetáculo, que procure outra arena. Aqui, o que se busca são provas, fatos e votos que possam ser sustentados diante da história.
Para nós, que militamos pela reconstrução de um projeto popular e democrático, a importância desse julgamento vai além das cadeiras do tribunal: trata-se de uma oportunidade de reafirmar que o Estado de Direito serve para proteger a maioria contra as ambições de poucos. Lula e o PT, apesar das críticas e limitações que todos sabemos que existem, permaneceram como baluartes — na disputa institucional — contra o retorno autoritário. Defender o andamento sério e completo do processo é também defender a possibilidade de avanços sociais que dependem de instituições fortes e públicas, e não do mercado e de privatizações que sempre enriquecem meia-dúzia.
Os que comemoram atrasos ou preveem trancos no processo deveriam se lembrar: a tentativa de golpe deixou rastros, e esses rastros têm responsáveis. Não será com discursos inflamados na internet ou com manobras protocolares que se apaga o que foi feito. O adiamento é uma medida prática para garantir que cada voto venha acompanhado de fundamento e coragem jurídica — algo que os conservadores há muito trocaram por estratégias de mídia e por financiamento de bilionários de direita.
No fim das contas, esta pequena vitória da prudência institucional nos dá tempo para acompanhar, cobrar e tornar público cada passo do julgamento. Que venha o próximo dia de sessão — com transparência, firmeza e a determinação necessária para que os responsáveis pela trama golpista respondam por seus atos. A luta política segue nas ruas, nos sindicatos, nas universidades e também dentro dos tribunais: é preciso ocupar todos os espaços para impedir o retorno da barbárie que quase nos engoliu.