O presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu o tom durante o encontro nacional do PT neste domingo (3). Cobrou de suas lideranças e militantes um esforço redobrado para 2026, lembrando que sem bancada forte não há como aprovar as pautas que mexem com o poder econômico e revelando a frustração de quem se considera “o melhor time em campo” mas caminha com poucos jogadores.
Desafio no Congresso
Lula detonou a própria base de apoio: “Nesta eleição, o nosso partido só elegeu 70 deputados de 513. Se fossemos bons como pensamos que somos, teríamos eleito uns 140, pelo menos 150”. É de fazer corar qualquer um que se intitula gigante. O presidente destacou ainda que, dos 81 senadores, o PT colocou apenas 9 no Congresso — número que torna qualquer agenda progressista refém de barganhas e acordos espúrios.
Enquanto isso, o PL de Bolsonaro ostenta 99 cadeiras na Câmara. Alguém duvida de quem manda mesmo sem ser governo? `Segundo a cientista política Maria Silva, “a falta de maioria fragiliza até as propostas mais populares, criando um ciclo vicioso de derrota e esvaziamento político”`.
Os resultados recentes dão o tom: o decreto que aumentava o IOF foi derrubado duas vezes em semanas; vetos presidenciais a projetos aprovados tombaram no plenário; medidas provisórias sequer saem do papel. “E se depender só de nós, a gente não aprova nada. Se depender só daqueles que apoiam a gente, a gente também não aprova nada”, advertiu o petista, arrancando exclamações e vaias de quem entende que não basta sentar à mesa, é preciso levar jogo de cintura.
Sem votos na Casa, não há ordem que resista. Lula lembrou ainda que, quando se precisa enviar um projeto de lei ou MP, “é preciso saber quantos votos tenho lá”. A falha em calcular esse placar interno, afirmou, é o que emperra toda transformação estruturante — da tributação sobre os ricos a políticas de controle de preços.
Olhar para 2026
Para Lula, 2026 não é futuro, já começou hoje. E a tarefa principal é reforçar o exército parlamentar: ele quer mais PT, mas reconhece que toda a esquerda está no mesmo barco furado. Nas falas, pediu que cada liderança se mova para conquistar candidaturas competitivas nas capitais e no interior, dialogando com sindicatos, movimentos sociais e até movimentos de base das grandes empresas estatais.
Sobre o veto ao aumento do número de deputados — proposto para atender decisão do STF com base no Censo de 2022 — o presidente foi categórico: “A proposta não é o que o Brasil está precisando”. Ele argumentou que ampliar a Câmara elevaria despesas e descumpriria princípios de eficiência fiscal. Depois, completou: “Vetei, o Congresso pode derrubar, mas quero ver quem paga a conta.”
A Constituição define que cada estado tenha no mínimo 8 e no máximo 70 deputados, proporcional à população. A insistência em desafiar esse pacto gerou uma troca de farpas entre Executivo e Legislativo, mas Lula não recua: prefere panela de pressão a bancadas inchadas sem compromisso social.
No seu discurso, o presidente destacou ainda a importância de respeitar papéis institucionais. “Não importa se o presidente da Câmara me gosta ou não. Eu preciso dele porque ele preside uma instituição legítima.” Foi um aviso para que ninguém confunda simpatia com poder de veto.
No encerramento, Lula pediu mobilização, debate interno e atuação coordenada para 2026: atrair quadros jovens, ampliar debates regionais, fortalecer coligações locais. Num tom que misturou ironia e urgência, perguntou: “Vamos continuar entregando a casa de portas abertas para a direita mandar ou vamos trancar tudo e assumir o protagonismo que temos?”
A disputa que se avizinha não será apenas de votos, mas de narrativa. E, como lembrou o próprio Lula, sem uma base forte no Congresso, qualquer grande projeto social vira pedaço de papel em gaveta. A hora é de reagrupar, politizar e ir à luta – porque quem quer transformar o Brasil não tem mais tempo para cochilar.