O presidente Donald Trump voltou a abrir a boca e a amarrar comércio com um par de tarifas e ameaças diplomáticas — agora apontando o dedo para o Brasil e insinuando que pode restringir vistos de autoridades brasileiras que vão à Assembleia Geral da ONU. Não se trata apenas de birra: é uma ofensiva geopolítica com cheiro de chantagem, orquestrada por quem defende interesses dos bilionários e quer reescrever regras internacionais a partir da força do dólar e do orgulho ferido. Tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros e a ameaça de suspensão de vistos são tentativa clara de intimidação econômica e política.
Na entrevista coletiva na Casa Branca, Trump foi direto ao ponto ao ser questionado sobre cancelar vistos diplomáticos: “Estamos muito irritados com o Brasil. Já aplicamos tarifas pesadas porque eles estão fazendo algo muito infeliz.” — Donald Trump. A fúria do magnata contra o Brasil não é apenas retórica: as medidas de agosto e a gigantesca lista de exceções pointam para uma política feita sob medida para pressionar governos que não se ajoelham aos interesses estadunidenses mais reacionários.
Parte da animosidade tem destino certo: o processo contra Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal, em que o ministro Alexandre de Moraes é relator, foi transformado em pretexto para ataques. A direita internacional e seus aliados produziram campanhas para blindar Bolsonaro, enquanto Trump se aproxima do cardápio protecionista que favorece seus aliados. Essa aliança entre extrema-direita brasileira e os interesseiros de Washington revela o projeto: desestabilizar quem desafia o status quo neoliberal.
Lulinha paz e amor
Enquanto Trump late, Lula estende a mão e insiste no terreno da diplomacia e da negociação. Em tom conciliador, o presidente brasileiro disse que espera que Trump entenda a necessidade de negociar as tarifas impostas ao Brasil, Índia e China: “Se o Trump quiser negociar, o ‘Lulinha paz e amor’ está de volta.” — Luiz Inácio Lula da Silva. Lula ainda deixou claro o objetivo: manter relação estável com os EUA sem abrir mão da soberania econômica: “Não tenho nenhum interesse em brigar com os EUA, tenho interesse de que essa amizade de 200 anos possa conviver democraticamente mais 200 anos.”
O governo brasileiro não ficou apenas nos apelos: recorreu à Organização Mundial do Comércio, alegando violação de compromissos dos EUA no GATT e no mecanismo de solução de controvérsias. Nas palavras do próprio Lula, o país usará todos os instrumentos legais disponíveis: “Ele [Trump] tem direito de criar taxas, ele tem direito, mas tem regra. Temos a OMC… A gente vai utilizar todos os mecanismos legais.”
Do nosso lado, como militantes e como jornalistas da Luta Socialista, é preciso ver claro o quadro: não se trata de um simples choque diplomático, mas de uma tentativa de reordenamento internacional que pune governos que ousam restaurar políticas públicas, proteger estatais e contrariar privatizações. A direita brasileira — aquela que idolatra Bolsonaro e caleja reputações por conta de bufos e mentiras — se alinha com essa ofensiva, enquanto o PT busca canalizar resistência política e institucional.
A hora exige resposta firme: combinar diplomacia com estratégia social e econômica, fortalecer a unidade popular e denunciar a chantagem imperial nas ruas, nos sindicatos e no debate público. Lula e o PT, por mais contraditórios que possam ser em algumas escolhas, hoje representam a frente capaz de reorientar o país para políticas que defendam soberania, empregos e serviços públicos — um ingrediente indispensável para avançar numa etapa realmente anticapitalista.
Que fique claro: não vamos aceitar que interesses externos decidam os rumos do Brasil nem que a extrema-direita use Washington como escudo para retornar ao poder. A disputa é política, social e de classe — e exige mobilização popular, unidade e uma resposta à altura das chantagens. Quem pensa que ameaça com tarifas e vistos vai nos amedrontar ainda não entendeu que o povo brasileiro tem história de luta para além das mesazinhas de negociações do grande capital.