A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro anunciou nas redes sociais que teve seu Fusca revistado em Brasília — e, claro, transformou a ação de rotina em piada pronta: “foi para conferir se o Jair não estava escondido”. O episódio, que mistura o cotidiano constrangedor de uma família envolvida em investigações com a pompa midiática que cerca os Bolsonaros, revela tanto a tensão jurídica em torno do ex-presidente quanto o teatro de resistência que a direita tenta sustentar entre memes e bravatas. Quem manda na praça hoje é o Judiciário; quem faz escândalo é a trupe bolsonarista.
A revista no Fusca
Michelle disse que o carro estava sendo levado para uma oficina quando foi revistado, mas não disse quem realizou a busca. Em sua publicação, ironizou o procedimento: “pra conferir se o Jair não estava escondido”, e ainda provocou: “Vocês acham que, na frente de um fusca – onde fica o estepe – cabe um homem de 1,85?” A cena tem algo tragicômico: enquanto ela faz graça com a logística de um automóvel antigo, a realidade é que o clã Bolsonaro vive cercado por ordens judiciais, operações policiais e a crescente desmoralização pública.
As imagens de julho, quando a casa do ex-presidente foi alvo de operação da Polícia Federal, mostravam justamente um Fusca na garagem — detalhe que alimenta especulações e provoca a insolência dos apoiadores. Mas rir da revista não apaga o fato político: o aparato estatal está seguindo determinações judiciais e tentando garantir que não haja qualquer manobra para ocultar evidências ou facilitar escapes.
Quando a direita transforma uma revista de carro em espetáculo, revela seu pavor: não é só sobre o homem, é sobre o império simbólico que vinha construindo. As instituições estão, finalmente, fazendo aquilo que a imprensa independente e a luta popular exigiam: aplicar a lei sem exceção.
Monitoramento, ordens do STF e o desconforto no Solar de Brasília
A ação tem base em decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que no dia 30 de agosto determinou vistorias em veículos que deixam a residência onde Jair Bolsonaro cumpre prisão domiciliar. Desde 27 de agosto, policiais penais do Distrito Federal realizam monitoramento contínuo da casa no Condomínio Solar de Brasília, no Jardim Botânico — endereço de luxo que serviu por anos como bunker ideológico da extrema direita.
A Secretaria de Administração Penitenciária, quando questionada pelo g1, não confirmou se a Polícia Penal do DF foi a responsável pela revista do Fusca, mas justificou a atuação como cumprimento de ordem judicial. “A Policia Penal do DF está cumprindo ordem judicial [do STF] em conformidade com a decisão expedida e não comenta ou detalha operações em curso”, disse a secretaria. As medidas determinadas por Moraes ampliaram o monitoramento na área externa e autorizaram vistorias em veículos, incluindo porta-malas, com documentação das ações — identificação dos veículos, motoristas e passageiros.
O desconforto no Solar de Brasília é compreensível para quem tratava o local como redoma: agora há “pontos cegos” cobertos, registros formais de quem entra e sai e a impossibilidade de encenar normalidade. Para a militância bolsonarista, isso se traduz em narrativa persecutória; para o resto do país, é sinal de que responsabilização e transparência estão avançando, ainda que a passos (muito) lentos.
No fim das contas, a revista no Fusca é mais um episódio na sequência de medidas que visam impedir esquemas de proteção ao clã e desmontar o livre trânsito de um ex-presidente que virou mais símbolo de impunidade do que de poder real. E enquanto a direita chora e ironiza, segue o trabalho: a lei não se curva aos memes, e a luta por justiça segue — precisamos aproveitar esse embalo para empurrar ainda mais a ofensiva democrática e popular que o Brasil exige.