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Charlie Kirk, aliado do bolsonarismo, morto em atentado nos EUA: um alerta sobre o preço da cultura das armas

A morte de Charlie Kirk em um atentado durante um debate universitário nos EUA abalou o mundo — e acendeu a habitual pantomima de dor entre os conservadores brasileiros que descobriram, de repente, um novo mártir estrangeiro. Enquanto deputados e governadores vestem de luto as redes sociais, há de se perguntar: quanta hipocrisia cabe num só lamento quando são as mesmas vozes que enaltecem armas, estimulam confronto e atacam instituições democráticas? É revoltante ver a direita chorar por algo que, em larga medida, ajudou a semear.

Bolsonaro, Kirk e a defesa explícita do armamento

Kirk, fundador do Turning Point USA e aliado ferrenho de Donald Trump, tornou-se figura de referência para o bolsonarismo no exílio. Jair Bolsonaro participou em fevereiro de 2023 de um evento da organização de Kirk, onde trocaram elogios e reafirmaram bandeiras: porte de armas como pilar ideológico e narrativa de perseguição judicial. Em vídeo e entrevista, a parceria ficou clara. Em uma das falas mais emblemáticas, Bolsonaro disse: “um povo armado jamais será escravizado” — Jair Bolsonaro. Kirk respondeu com concordância, numa sintonia que mistura mitologia revolucionária do armamento com cultura do confronto. Esse enfileirar de frases de efeito serve para inflamar, não para proteger vidas.

No mesmo período, Kirk chegou a pedir retaliações contra o Brasil por conta do tratamento dado ao ex-presidente. Em seu programa, ele afirmou: “Se o Brasil faz isso, por que estamos tolerando? O Departamento de Estado, Marco Rubio e o presidente Trump deveriam impor tarifas e, se necessário, sanções ao Brasil” — Charlie Kirk. Não é pouca coisa: um influenciador que pede sanções contra um país aliado, alinhado com tentativas de intervenção externa contra processos internos. Tem gente que chama isso de solidariedade internacional; eu chamo de intromissão ideológica com efeitos geopolíticos.

Reações da extrema direita brasileira

Entre os primeiros a lamentar a morte, figuras que se aliaram a Kirk e ao bolsonarismo, como Eduardo Bolsonaro, publicaram mensagens de pesar. “Estou chocado. Apenas 31 anos… Charlie Kirk, jovem de bom coração, criativo e empreendedor, que dedicou sua vida a mobilizar a juventude conservadora nos EUA, nos deixou de forma trágica” — Eduardo Bolsonaro. O governador Tarcísio de Freitas também escreveu: “Recebi com profunda tristeza a notícia da morte de Charlie Kirk, vítima de um atentado covarde, fruto da intolerância contra valores como o amor a Deus, à família e à liberdade” — Tarcísio de Freitas. Tristeza legítima? Sem dúvida. Mas não dá para aceitar que essa comoção venha sem autocrítica: esses mesmos discursos inflaram polarização, celebraram armas e minimizaram a violência política antes da tragédia.

No vídeo do atentado, nota-se a grotesca ironia: a palestra tratava de violência com armas e da “ameaça” da esquerda — como se a análise se desse fora do contexto real das consequências do armamentismo e da retórica extremista. Há uma responsabilidade política e moral que não pode ser varrida para debaixo do tapete com um simples tuíte de pesar.

O momento político e o papel do PT

Enquanto a extrema direita externa dor e busca mártires, a tarefa da esquerda é outra: fortalecer a democracia, defender instituições e enfrentar o ciclo de violência discursiva com políticas públicas que reduzam homicídios, controlem armas e ampliem direitos sociais. Lula e o PT representam, para muitos de nós, não apenas uma alternativa eleitoral, mas a chance de retomar uma etapa de luta anticapitalista popular que priorize a vida e o coletivo — frente às teses de confrontação que alimentam tragédias como essa.

O assassinato de Kirk é uma tragédia que merece condenação firme. Mas que também sirva como espelho para o Brasil: quando se cultiva a cultura das armas e da transgressão institucional, os efeitos voltam — aqui e lá. Cabe à esquerda transformar luto em ação política concreta, e à direita responder: será que vão continuar a aplaudir o caldo de selvageria que ajudaram a fermentar? A hora é de exigir responsabilidades, desmontar narrativas perigosas e reafirmar que democracia e paz social não são discursos, são práticas.

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