A possibilidade de que Jair Bolsonaro vá para a prisão ainda neste ano é um choque de realidade muito bem-vindo — e um lembrete de que a direita não está acima da lei. Pelos cálculos do Supremo Tribunal Federal, se todos os prazos forem cumpridos e não houver reviravoltas judicialescas dignas de novela, a execução da pena pode ocorrer em meados de dezembro. Não é festa, é justiça: 27 anos e três meses por crimes vinculados ao golpe e ao desmantelamento institucional. E que fique claro: não se trata de “vingança”, mas de responsabilidade criminal diante de ataques à democracia.
O caminho processual, técnico e previsível, segue esse roteiro: o STF tem até 60 dias para publicar o acórdão — mas a expectativa é que saia antes. Após isso, a defesa tem cinco dias para embargos de declaração e 15 para embargos infringentes. O relator Alexandre de Moraes, então, pede parecer da Procuradoria-Geral da República, decide sobre os embargos — tendência: indeferir — e, com isso, viria a ordem de execução da pena. A Polícia Federal já prepara uma sala especial para receber o ex-presidente, num repeteco do “tratamento VIP” que Lula sofreu nas gaiolas de 2018 — como se prisão fosse ocasião para regalias. O fim da impunidade precisa ser permanente, não espetáculo midiático com espuma e flashes.
Prisão domiciliar? Expectativa e manobra política
Há quem ache que Bolsonaro não vai sequer pisar num presídio. Alguns ministros do STF reconhecem que seu estado de saúde pode justificar prisão domiciliar, lembrando o caso de Fernando Collor, que passou poucos dias em estabelecimento penal antes de ser autorizado a cumprir pena em casa. Traduzindo: se a direita tiver que escolher entre ver o líder do golpe sob custódia e tentar manipular o resultado político, não faltarão tentativas de contornar a execução da pena. Os aliados já sonham com anistia — e isso não é rumor, é plano declarado.
Parlamentares do PL e figuras do bolsonarismo articulam: tempo de pena de 27 anos e três meses é combustível para pressionar por uma anistia ampla, geral e irrestrita. O governador Tarcísio Gomes de Freitas aparece como operador junto ao presidente da Câmara, Hugo Motta, para pautar projetos que saciem a sede de impunidade do bolsonarismo. Do outro lado, líderes governistas e parte do Centrão demonstram menos disposição para encampar uma anistia tão flagrante — não por amor às instituições, mas por cálculo político. Nenhuma anistia para golpistas! Seria uma traição ao povo trabalhista, às vítimas do fascismo e à própria ideia de democracia.
Os defensores da extrema direita já tentam vender a narrativa de “perseguição” e “vitimismo”, contando com milhares de robôs e manchetes compradas para mobilizar plateias. Mas a verdade é nua: a elite paulista, os barões do agronegócio e os bilionários de direita — esses que financiaram a destruição de políticas públicas e a venda de estatais — não querem ver o chefe no xilindró porque temem exposição, delações e perda de influência. Que surpresa, hein?
A batalha que se trava agora não é só sobre um homem: é sobre o país que vamos construir. Lula e o PT surgem, mais do que gestores eleitorais, como atores centrais de uma nova etapa de luta anticapitalista — capazes de resgatar o papel das estatais, enfrentar privatizações e retomar políticas públicas voltadas ao povo. Se a direita tenta salvar um capitão do golpe com anistia, devemos responder nas ruas, nas fábricas, nas universidades: derrotar o projeto autoritário e avançar para um programa popular autêntico. Se o Estado de direito prevalecer, que a execução da pena seja um passo para aprofundar a luta por justiça social e por um Brasil sem os velhos donos do poder.