A cena parecia cena de novela policial com sabor de revanche: uma Ferrari, um carro de Fórmula 1, motos, relógios de luxo e dinheiro vivo apreendidos no Lago Sul — enquanto milhões de aposentados descobrem descontos indevidos em seus contracheques. A operação da Polícia Federal contra fraudes no INSS expôs, mais uma vez, como o dinheiro público vira luxo de poucos através de um emaranhado de associações de fachada, lobistas e empresários dispostos a transformar aposentadorias em patrimônio pessoal. Quem imaginava que os palcos do escândalo seriam tão vistosos?
Atuação no esquema
A investigação aponta Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”, como o tal lobista-facilitador que alimentava a máquina de desvio. A PF sustenta que ele transferiu R$ 9,3 milhões para pessoas ligadas a servidores do INSS entre 2023 e 2024. Junto com ele, a PF prendeu o empresário Maurício Camisotti — apontado como sócio oculto de entidades usadas para desviar recursos — e cumpriu mandados contra o empresário Fernando Cavalcanti, dono dos carros apreendidos, e contra o advogado Nelson Wilians, alvo de buscas em São Paulo. As ordens partiram do ministro do STF André Mendonça.
“Ele tem colaborado integralmente com as autoridades, sua relação com um dos investigados é estritamente profissional e legal e os valores transferidos dizem respeito à compra de um terreno vizinho à sua residência.” — defesa do advogado Nelson Wilians
“Não há qualquer motivo que justifique sua prisão no âmbito da operação… A ação policial é arbitrária.” — defesa de Maurício Camisotti
“A empresa de Antunes apenas prestava serviços a associações, sem envolvimento na obtenção de dados de aposentados ou no recrutamento de pessoas.” — Cléber Lopes, advogado de Antônio Carlos Camilo Antunes
No meio desse espetáculo de ostentação, Cavalcanti afirma não ter qualquer relação com as fraudes e promete documentos para provar sua inocência. Sejamos claros: ninguém é obrigado a deixar de ser rico — mas quando a fortuna tem traços de saque ao bolso de idosos, aparece o crime e a farsa.
Enquanto a elite exibe suas máquinas, os verdadeiros donos dos recursos públicos seguem sem respostas.
Como funcionava o esquema
Segundo a PF e a Controladoria-Geral da União, o modelo era simples e cruel: entidades ofereciam propina a servidores do INSS para obter dados de beneficiários; usavam assinaturas falsificadas para autorizar descontos e criavam associações de fachada comandadas por idosos ou pessoas vulneráveis. A partir daí, mensalidades eram lançadas diretamente na folha de pagamento dos aposentados — muitos sem saber que tinham sido “associados”. Há registros de filiações múltiplas no mesmo dia, com erros de grafia idênticos nas fichas — assinatura de fraude.
A investigação começou na CGU em 2023 e, com indícios de crime, foi encaminhada à Polícia Federal em 2024. A ação desta semana culminou em 13 mandados entre Brasília e São Paulo, apreensões de bens e prisões. A PF afirma que os pedidos de prisão partiram de sua própria investigação, embora a CPMI do INSS já tivesse aprovado pedidos similares.
Não é escândalo isolado; é sintoma de como o capital e o poder público se combinam para roubar o futuro dos mais pobres.
A CPMI aprovou, por 26 votos a zero, pedidos de prisão preventiva e quebra de sigilo para o “Careca do INSS” e Camisotti, e o relator Alfredo Gaspar disse que a comissão seguirá com depoimentos solicitando oitiva no STF. Isso mostra que, apesar das tentativas de blindar operadores e empresários, a articulação entre fiscalização e parlamentares ainda pode pressionar por respostas.
Se restava alguma dúvida sobre a urgência de mudar o rumo deste país, a imagem da Ferrari apreendida ao lado de fotos de relógios e pilhas de dinheiro resolve o debate: não é questão de polícia apenas, é de projeto político! A direita defende privatização e a concentração; nós, socialistas, entendemos que é hora de transformar a indignação em luta política organizada, fortalecer estatais e proteger direitos — para que patrimônio público nunca mais vire vitrine de riqueza de corruptos. E então? Vamos aceitar que aposentadoria vire luxo de poucos ou vamos reagir e reconstruir um projeto popular que puna os ladrões e devolva dignidade ao povo?