Circula nas redes uma daquelas bobagens que a direita adora plantar para confundir e provocar: um vídeo mostra jovens entregando uma bandeira do Brasil ao papa Leão XIV e a legenda afirma — com a certeza típica dos bolsonaristas fanáticos — que a bandeira trazia o rosto de Jair Bolsonaro. Não trazia! É #FAKE e mais um exemplo de como a indústria de mentiras tenta colonizar o senso comum. Quem espalha isso quer só inflamar ódios, não informar.
O registro original foi publicado pelo próprio grupo de jovens brasileiros que acompanhou a cerimônia de canonização de Carlo Acutis, no Vaticano. O vídeo é antigo e legítimo: foi postado no Instagram do coletivo @carlonizacao no dia 6 de setembro de 2025, um dia antes da celebração. Não há nenhuma imagem de Bolsonaro na bandeira; o desenho é, na verdade, de Carlo Acutis, o jovem que se tornou santo e é conhecido como o primeiro santo da geração millennial. Acutis morreu aos 15 anos, em 12 de outubro de 2006, vítima de leucemia, e os jovens brasileiros o levaram como símbolo naquela cerimônia — legítimo e emocionante, diferente da montagem rasteira que circula por aí.
Como verificamos
A checagem usada por veículos sérios seguiu o caminho certo: o Fato ou Fake aplicou a plataforma InVID para decompor o vídeo em frames e, a partir desses quadros, fez buscas reversas com Google Lens. O resultado confirmou o que já estava no perfil @carlonizacao: as imagens correspondem ao momento em que o grupo entregou a bandeira ao papa no dia 6 de setembro. Ou seja, não houve troca de bandeira nem alteração digital que adicionasse a face do ex-presidente. Quem inventou essa versão torpe decidiu mentir para provocar e ganhar cliques; a técnica é velha, o objetivo é o mesmo: catalisar ódio e confusão.
Por que isso importa? Porque vivemos uma época em que mentiras fabricadas alimentam linchamentos virtuais, ameaçam vidas e corroem os pilares de qualquer debate democrático. A direita bolsonarista aprendeu que, mesmo sem argumentos, se regurgitar mentiras em massa alguma parcela da opinião pública acaba acreditando. Não é por acaso: campanhas de desinformação são parte do arsenal de quem não tem projeto real para o país — só ressentimento, nostalgia autoritária e tentativas de sabotar as instituições.
Também interessa registrar o papel dos jovens que foram ao Vaticano. Em vez de serem cooptados pela fúria reacionária, eles levaram um símbolo religioso e geracional, algo que merece respeito. A apropriação mentirosa desses atos por setores autoritários busca privatizar manifestações de fé e de afeto para transformá-las em palanque político. Isso é vil — e merece resposta. A esquerda precisa não só desconstruir a mentira, mas também disputar narrativa e projeto. Enquanto a direita cria factóides, precisamos de organização, verdade e um projeto que defenda estatais, direitos sociais e a soberania popular — tarefas onde o PT, com seus erros e acertos, ainda tem papel central na disputa política por um país justo.
A checagem jornalística é uma arma contra esse tipo de manipulação; a ação é simples: verificar a origem do conteúdo, usar ferramentas de análise de vídeo e imagens e checar as contas originais que divulgaram o material. Nesse caso, o caminho levou direto à conta @carlonizacao e aos registros oficiais da canonização — portanto, desmentido claro e incontroverso.
No fim das contas, essa história é mais um lembrete: numa sociedade em que a mentira viraliza mais rápido que a verdade, a responsabilidade de quem informa e de quem recebe informação se torna questão política. Não vamos permitir que a direita privatize a realidade com montagens e acusações vazias. A melhor resposta é a combinação de checagem, organização popular e política combativa para desmontar as redes de ódio e construir uma narrativa de emancipação que não passe por truques baratos.