O Supremo Tribunal Federal concluiu, na última quinta-feira (11), o julgamento do núcleo central da trama golpista que tentou desmontar a democracia no Brasil. Depois de cinco dias de sessões, por 4 votos a 1, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi considerado culpado — pena de 27 anos e 3 meses de prisão — e outros sete réus também foram condenados. Foi um momento histórico: a Justiça apontou o crime político que a direita radical queria transformar em norma. Mas, como todo espetáculo político no Brasil, veio embalado em pitadas de humor, provocações entre ministros e os inevitáveis memes das redes sociais.
Nos corredores do julgamento: provocações, piadas e resistência
Os encontros entre os ministros da Primeira Turma não foram só tecnicismos jurídicos, foram também um cenário de recados claros ao bolsonarismo. Antes do voto que decidiu a maioria, Cármen Lúcia foi interrompida por Flávio Dino e Alexandre de Moraes — que exibiu imagens do 8 de janeiro e discursos de Bolsonaro, como uma forma de lembrar a gravidade dos atos. A decana respondeu num tom leve, quase irônico: “Sou da prosa”: Cármen Lúcia. E quando explicou que havia escrito 396 páginas, afirmou que leria apenas o resumo — um corte seco na verborragia dos golpistas.
Luiz Fux, o único que votou pela absolvição, havia avisado: “Meu voto é muito extenso e não quero perder o fio da meada”: Luiz Fux. Alguém tinha que salvar o drama teatral da narrativa conservadora. Mas foi Alexandre de Moraes quem arrancou risadas e deixou recados: começou a dosimetria das penas lembrando, com ironia, que o voto extenso de Fux o fez perder parte de um jogo do Corinthians — e brincou com memórias de visitas à Arena. E, claro, a cena que viralizou: quando Cármen Lúcia contou a história da senhora que confundiu “neutralizar” com “harmonizar”, transformando ameaça em estética facial. A surrealidade do momento denunciou o abismo entre o que se planejou e o que se consumou.
Quem tentou destruir a democracia ganhou um processo à altura de seus crimes. Porém, não podemos nos iludir: uma condenação não acaba com a máquina autoritária; só a desmonta politicamente se houver mobilização social e um projeto popular firme.
O veredicto e os próximos passos
Cristiano Zanin, ao iniciar seu voto, deixou claro que não repetiria a leitura integral: “Muitos temas foram exaustivamente abordados”: Cristiano Zanin. A decisão uniu a maioria dos magistrados contra a trama golpista, e a pena imposta a Bolsonaro é simbólica tanto pela gravidade quanto pela mensagem: crimes contra a democracia não passam impunes.
É hora de transformação: derrotar eleitoralmente a direita não basta; é preciso desmantelar suas estruturas políticas, econômicas e midiáticas. Aqui é que entra o papel do campo progressista e do PT. Lula e o PT não são apenas uma alternativa eleitoral — são centrais para promover uma nova etapa de luta anticapitalista, revalorizando estatais, combatendo as privatizações e enfrentando os bilionários que financiam esse ecossistema reacionário. A condenação judicial é um passo; a mobilização popular e a construção de um projeto de poder democrático e popular são o caminho para que isso não se repita.
O julgamento mostrou ao mesmo tempo a fragilidade do golpe e a capacidade das instituições de responder. Mas a batalha política continua nas ruas, nas fábricas, nas universidades e nos meios de comunicação. Se queremos uma democracia sólida, precisamos ir além das sentenças: organizar o povo, disputar hegemonia cultural e construir políticas que revertam a concentração de poder. Quem acha que uma pena de 27 anos resolve tudo ignora o trabalho que vem pela frente. Quem prefere comemorar apenas os memes, que não espere que a luta pela democracia vença sem suor e inteligência!