luta socialista

Restos do pianista brasileiro Francisco Tenório Júnior, desaparecido antes do golpe militar na Argentina, são finalmente identificados

A notícia da identificação dos restos mortais do pianista Francisco Tenório Cerqueira Júnior — o Tenorinho — é um choque que atravessa décadas e nos lembra, com brutalidade, que a impunidade só dura enquanto as gerações a toleram. Desaparecido em Buenos Aires na noite de 18 de março de 1976, às vésperas do golpe militar argentino, Tenorinho havia saído do hotel Normandie após uma apresentação inesquecível e nunca mais voltou. Agora, graças ao trabalho da justiça argentina e à persistência das famílias e dos movimentos pela memória, sua identidade foi finalmente reconhecida por exames de impressões digitais.

A identificação e o contexto

Tenório Jr. estava em turnê pelo Uruguai e Argentina junto com Vinicius de Moraes, Toquinho, Mutinho e Azeitona. Era um dos nomes mais marcantes da música instrumental brasileira, mestre na fusão de bossa nova e jazz — e sua falta se transformou em ausência histórica por meio século. Ele saiu para comprar cigarros e caiu na máquina sinistra dos desaparecimentos forjados pelas ditaduras da região. O corpo, encontrado em Don Torcuato em 20 de março de 1976, só agora foi reconhecido como seu, fruto do trabalho de perícia e da abertura de arquivos que, felizmente, ainda acontecem em algumas partes da América Latina.

“A embaixada do Brasil foi oficialmente informada sobre a identificação dos restos mortais do pianista Francisco Tenório Cerqueira Júnior, conhecido como Tenorinho, desaparecido em Buenos Aires na noite de 18 de março de 1976, nas vésperas do golpe militar na Argentina”, informou a Embaixada do Brasil em Buenos Aires. “A Embaixada do Brasil em Buenos Aires agradece à Câmara Federal de Recurso e à Procuradoria de Crimes de Lesa Humanidade pelos esforços dedicados à resolução deste importante caso e à busca de Memória, Verdade e Justiça.” Palavras que soam como socos de dignidade: reconhecimento tardio, mas essencial.

Memória, justiça e a política do presente

Por que isso importa hoje? Porque as sombras das ditaduras sul-americanas não são apenas passado remoto — elas reverberam nas tentativas atuais de normalizar falas autoritárias, na desinformação e na disputa sobre o que é permitido lembrar. Enquanto a direita golpista e os defensores do regime militar tentam reescrever a história, a identidade de Tenorinho reaparece como prova documental de crimes que não podem ser varridos para baixo do tapete. Não há capitalismo democrático sem verdade sobre os horrores do passado; não há reconciliação sem justiça.

E falando em direita: como não lembrar da naturalidade com que setores conservadores e seus porta-vozes tentam blindar oligarquias e privatizações, ao mesmo tempo em que negam massacres e seletividades de política? A luta por memória é também luta contra a banalização do autoritarismo que hoje se alia a interesses privados vorazes. Precisamos de estatais fortes, de políticas públicas que deem dignidade, e de uma frente popular que transforme lembrança em força política — e, sim, é nisso que vejo o papel do PT e de Lula: não apenas como alternativa eleitoral, mas como catalisadores de uma nova etapa de enfrentamento ao capital concentrado e à direita que ainda cultiva nostalgias repressoras.

Tenório Jr. era artista, mas também vítima de um projeto político que eliminou vozes dissidentes. Reconhecer sua identidade é reafirmar que cada músico, cada jornalista, cada trabalhador e trabalhadora que desapareceu tem rosto e nome. E que a sociedade não pode nem deve descansar enquanto esses crimes não forem integralmente esclarecidos e punidos.

A notícia deve, portanto, nos servir de chamada às ruas, aos tribunais e às escolas: memória ativa, justiça efetiva e resistência política. Que a identificação de Tenorinho não fique apenas como nota de rodapé, mas como munição ética e política contra os que hoje sonham em calar a história e comprar o futuro com privatizações e riqueza acumulada por poucos. Continuemos exigindo Memória, Verdade e Justiça — sem tréguas!

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