A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os descontos ilegais em aposentadorias do INSS marca para esta segunda-feira (15) o depoimento de Antônio Carlos Camilo Antunes, o infame “Careca do INSS”. Acusado pela Polícia Federal de ser um dos articuladores de um esquema que desviou bilhões dos benefícios, Antunes chega ao colegiado entre prisões, quebras de sigilo e a costumeira cortina de fumaça política que tenta proteger os verdadeiros beneficiários desse assalto. Quem perde, como sempre, é o povo aposentado — enquanto empresários e servidores coniventes transformavam a Previdência num caixa privado.
A investigação da PF
Na última sexta (12), Antunes e o empresário Maurício Camisotti foram presos pela Polícia Federal. Depois da operação, a CPMI pediu ao relator do inquérito no STF, ministro André Mendonça, a liberação de Antunes para depor — pedido que foi acatado. Convocado na condição de investigado, o “Careca do INSS” tem o direito de não responder perguntas que possam incriminá-lo; são 14 pedidos formais para ouvi-lo. “Estamos em contato com a defesa do suspeito e ele confirmou que deseja ir à CPMI para apresentar a versão que ele tem de todo esse escândalo, de todos os fatos que estão sendo divulgados”, disse o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG).
A Polícia Federal descreve Antunes como o lobista-facilitador do esquema; segundo as investigações, ele transferiu R$ 9,3 milhões para pessoas ligadas a servidores do INSS entre 2023 e 2024. Já Camisotti, preso em São Paulo, é apontado como sócio oculto de uma entidade que negociava benefícios e descontos na folha de pagamento dos aposentados. “Não há qualquer motivo que justifique sua prisão no âmbito da operação relacionada à investigação de fraudes no INSS”, disse a defesa de Camisotti. Por sua vez, a defesa de Antunes informou por telefone à TV Globo que buscará a liberdade do cliente: “vai buscar a liberdade do seu cliente”, afirmou a defesa à emissora.
O quadro que emerge é o de uma máquina bem oleada de desvio: associações-fantasma, servidores comprados e descontos lançados diretamente nos contracheques das vítimas. Esse não é um erro administrativo — é crime organizado operando com a cumplicidade de quem deveria defender a Previdência.
Como funcionava o esquema
As investigações da PF e da Controladoria-Geral da União (CGU) revelam o modus operandi: associações e entidades criadas apenas para abocanhar benefícios ofereciam “serviços” a aposentados, mas, na prática, cadastravam pessoas sem autorização e falsificavam assinaturas para autorizar descontos mensais. Em muitos casos, os presidentes das associações eram idosos ou pessoas vulneráveis usadas como fachada. Há registros alarmantes de aposentados sendo filiados, no mesmo dia, a mais de uma entidade — com erros de grafia idênticos nas fichas, sinal claro de fraude em série.
Dirigentes dessas associações e servidores coniventes recebiam vantagens indevidas para inserir os descontos na folha do INSS, permitindo o repasse das mensalidades para estruturas privadas. A investigação começou em 2023 na CGU e, diante dos indícios de crime, foi transferida para a PF em 2024.
A CPMI não deixou barato: aprovou a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Antunes e mais 364 requerimentos para transferência de sigilos de pessoas e entidades ligadas ao caso — nomes que incluem o ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto, ex-ministros Carlos Lupi e Ahmed Mohamad Oliveira Andrade, além de ex-servidores e empresários já investigados em outras CPIs. Pedidos foram enviados ao COAF para relatórios financeiros sobre transações entre 2017 e 2025.
É hora de punir os responsáveis e reconstruir uma Previdência pública e respeitosa com os trabalhadores — não de proteger figuras que transformaram o Estado em negócio privado.
A sessão de segunda é mais do que um espetáculo parlamentar: é uma oportunidade para expor redes, responsabilizar cúmplices e recuperar valores roubados dos mais frágeis. Se a esquerda tem um papel, é o de transformar essa indignação em ação política concreta: fortalecer as estatais, blindar direitos e, sobretudo, garantir que precatórios e aposentadorias não virem manobra para enriquecer bilionários e milicianos do mercado. Quem acha que a luta acabou ainda não entendeu nada. Quem lucrou com esse esquema precisa pagar — na Justiça e nas urnas.