O ex-presidente Jair Bolsonaro, que cumpre prisão domiciliar, teve a sua defesa protocolando no Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido para autorizar uma série de visitas na residência onde está recolhido. O movimento revela o esforço do bolsonarismo para manter a máquina política do PL funcionando como se nada tivesse acontecido — enquanto a Justiça já o condenou por participação na tentativa de golpe. É absurdo e previsível: o Centrão tenta usar a casa de um condenado como se fosse gabinete paralelo. Querem transformar a casa de um condenado por tentativa de golpe em quartel‑general político do Centrão.
Pedidos de visitas e justificativas
A lista é um desfile dos caciques de costume: Valdemar Costa Neto (presidente do PL), Rogério Marinho (líder da oposição no Senado), Sóstenes Cavalcante (líder do PL na Câmara), Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), o senador Wilder Morais (PL-GO) e Adolfo Sachsida, ex‑ministro de Minas e Energia. Rodrigo Valadares, aliás, apresentou na CCJ da Câmara um parecer favorável ao projeto de anistia para os condenados pelo 8 de Janeiro — uma pauta que, é curioso, cairia como luva para beneficiar o próprio Bolsonaro e seus comparsas.
Os advogados justificam os encontros como necessários para tratar de “pautas institucionais” e planejamento político. “A solicitação justifica‑se pela indispensável interlocução com o dirigente máximo da agremiação partidária, cuja função demanda contato direto e frequente com o Peticionante, notadamente para coordenação de pautas institucionais e planejamento de ações políticas de alcance nacional”, afirmam os advogados de Bolsonaro. Em outra passagem, sobre Rogério Marinho, repetem o argumento institucional: “O pedido funda‑se na necessidade de manutenção de tratativas institucionais contínuas com o Parlamentar, cujas atribuições no Congresso Nacional exigem diálogo direto com o Peticionante, inclusive para definição de estratégias e acompanhamento de pautas relevantes ao partido e à representação popular”, dizem os mesmos advogados.
E como não podia faltar o teatro da espiritualidade para tentar lavar a imagem política, Michelle Bolsonaro comunicou ao STF a realização de um “grupo de orações” às quartas‑feiras na residência, com lista de 16 participantes já enviada ao ministro Alexandre de Moraes. “Cumpre renovar os esclarecimentos de que esse grupo de oração já se reunia regularmente na residência [de Jair Bolsonaro] antes mesmo da imposição das medidas cautelares”, afirmam os advogados, acrescentando que o pedido visa “reafirmar o compromisso com o fiel cumprimento das restrições impostas”. A mistura de política, religião e impunidade é antiga — e não se torna menos nociva por ser previsível.
A figura de Valdemar merece destaque: no último fim de semana, o presidente do PL afirmou publicamente que “houve um planejamento de golpe no Brasil, mas não um crime”. Traduzindo: a estratégia é normalizar o ataque à democracia e tentar transformá‑lo em mera controvérsia sem consequências. “Houve um planejamento de golpe no Brasil, mas não um crime”, disse Valdemar Costa Neto durante evento no interior de São Paulo. É um cinismo de elevadíssimo grau, apoiado pelo pelego institucional que é o Centrão.
Não aceitaremos que o bolsonarismo continue articulando retrocessos enquanto a democracia é atacada. A tentativa de manter Bolsonaro como protagonista de manobras políticas mostra a urgência de desmantelar politicamente essa direita corrupta e golpista. A defesa de interesses públicos, das estatais, e a resistência a privatizações e ao poder dos bilionários de direita exigem organização e combate firme nas ruas, nos sindicatos e no Parlamento.
Se há algo positivo nesse episódio, é a clareza: o inimigo não dorme, e a batalha pela democracia e por um projeto popular autêntico precisa ser travada com inteligência política e unidade. Lula e o PT têm a tarefa histórica de canalizar essa resistência — não apenas como opção eleitoral, mas como eixo de uma nova etapa de luta anticapitalista no Brasil. Vamos expulsar esses golpistas dos espaços de poder e reconstruir um país que sirva ao povo, não aos ricos e aos oportunistas. Quem vai ficar de braços cruzados?