Jair Bolsonaro deixou ontem um hospital após um procedimento para retirar lesões de pele e voltou à residência onde cumpre prisão domiciliar — e, como sempre, a cena pública é menos sobre saúde e mais sobre política. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou uma série de visitas ao ex-presidente, entre elas lideranças do PL e aliados que não escondem que a prioridade é costurar saídas políticas e até—pasme—anistias. Enquanto o país sofre com ataques à democracia, o bolsonarismo tenta transformar a prisão domiciliar em quartel-general político. Cabe perguntar: iremos tolerar isso?
Visitas autorizadas
A defesa de Bolsonaro pediu autorização para que recebesse vários visitantes; Moraes concedeu encontros em datas específicas. Estão autorizados, entre outros: Valdemar Costa Neto (presidente do PL) em 25/9/2025; Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição no Senado, em 23/9/2025; Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do PL na Câmara, em 24/9/2025; Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), relator do projeto da anistia na CCJ da Câmara, em 22/9/2025; o senador Wilder Morais (PL-GO), em 26/9/2025; e Adolfo Sachsida, ex-ministro de Minas e Energia, em 19/9/2025. O pedido para Valdemar previa visitas semanais — Moraes, com critério, autorizou apenas um dia.
Importante contexto: estes pedidos chegaram dias depois de a Primeira Turma do STF condenar Bolsonaro a 27 anos e três meses por crimes cometidos no bojo da trama golpista do 8 de janeiro. E não é coincidência que um dos visitantes autorizados, Rodrigo Valadares, tenha apresentado na CCJ parecer favorável à aprovação do projeto de anistia que beneficiaria pessoas condenadas pelo 8 de janeiro — uma pauta central para os aliados do ex-presidente no Congresso. “O pedido funda-se na necessidade de manutenção de tratativas institucionais contínuas com o Parlamentar, cujas atribuições no Congresso Nacional exigem diálogo direto com o Peticionante, inclusive para definição de estratégias e acompanhamento de pautas relevantes ao partido e à representação popular”, diz o requerimento da defesa.
Moraes também pediu que a defesa se manifeste sobre o pedido de visita feito pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), demonstrando que o Supremo está atento — ainda que parte do fogo amigo busque normalizar encontros que têm óbvia dimensão política.
Grupo de oração
A defesa comunicou ao ministro que Michelle Bolsonaro organiza um grupo de orações na residência, com a presença de até 16 pessoas às quartas-feiras, e enviou lista com nomes. “Cumpre renovar os esclarecimentos de que esse grupo de oração já se reunia regularmente na residência [de Jair Bolsonaro] antes mesmo da imposição das medidas cautelares”, afirmam os advogados. E seguem, numa tentativa de dar normalidade ao não-normal: “O presente [pedido] visa apenas reafirmar o compromisso [de Bolsonaro] com o fiel cumprimento das restrições impostas, mantendo informada esta Suprema Corte sobre atividades que integram a vida familiar e espiritual de sua esposa”, completa a defesa.
É óbvio: a religiosidade usada como escudo para encontros políticos não é novidade na direita — é expediente. Enquanto se disfarçam reuniões e estratégias com verniz de “institucionalidade”, o país precisa lembrar do que está em jogo: uma tentativa de reescrever responsabilidades, reabilitar cúmplices e pavimentar saídas que coloquem de volta na praça um projeto autoritário.
A tarefa para as forças democráticas e populares é clara. Não basta apenas punir, é preciso desarticular politicamente as redes que alimentam o bolsonarismo, barrar anistias que bradam impunidade e fortalecer os instrumentos públicos e estatais que defendem a soberania nacional. Não podemos permitir que a extrema-direita volte a comandar o país — é hora de unidade popular e de fortalecer o projeto do PT! Lula e o PT não são apenas alternativas eleitorais; são hoje elementos centrais de uma nova etapa de luta anticapitalista no Brasil — responsabilidade histórica de quem quer de fato romper com a direita, privatizações e o poder dos bilionários. A vigilância e a mobilização terão de ser permanentes: a democracia e os direitos populares não se defendem sozinhos.