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Disputa entre Renan e Lira trava aprovação da isenção do IR para salários até R$ 5 mil

O debate sobre a isenção do Imposto de Renda para salários até R$ 5 mil virou mais um ringue eleitoral do que uma discussão de política pública no Congresso — e não podia ser diferente quando em cena estão Renan Calheiros e Arthur Lira, dois caciques que transformam tudo em disputa por espaço em Alagoas. É uma disputa que pode decidir candidaturas para 2026, mas, acima de tudo, revela como interesses de poder contaminam até medidas que beneficiariam a maioria. Quem perde com isso são os trabalhadores e trabalhadoras.

O governo Lula encaminhou o projeto em março, e coube a Arthur Lira relatar o texto na Câmara. Em julho, o parecer de Lira passou na Comissão Especial; em agosto, o plenário aprovou a urgência. Ainda assim, a votação não foi para a pauta — e o ex-presidente da Câmara atribui a demora ao “conflito constante” na Casa, que não tem sido exatamente um parque de diversões para quem quer avançar pautas sociais. Enquanto isso, a contagem regressiva para que a isenção valha já em 2026 corre no calendário da economia — se não aprovar agora, o benefício fica só no discurso eleitoral.

A resposta veio do Senado: Renan Calheiros vai ressuscitar um projeto de 2019, do senador Eduardo Braga, e se colocará como relator na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), da qual é presidente. A promessa é aproximar seu parecer do texto do governo e acelerar a tramitação na casa alta. “Há uma lentidão inegável na tramitação de propostas importantes para a sociedade,” disse o senador Renan Calheiros. Até aí, uma acusação justa. Mas alguém realmente acredita que Renan está pensando só no povo e não na sua própria sobrevivência política em Alagoas?

Aliados de Lira interpretam o movimento como provocação e eleitoralização do tema. “É uma provocação que contamina o tema com a disputa de Alagoas,” disseram aliados de Lira. E, para deixar a situação ainda mais politizada, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, tem público apoiado a condução de Lira. “Tenho defendido publicamente Arthur Lira e a sua relatoria,” disse a ministra Gleisi Hoffmann. Resultado: uma batalha de narrativas que corre o risco de empurrar para o atraso algo que poderia aliviar o bolso de milhões.

O conteúdo técnico, porém, não pode ser esquecido. O custo da isenção em 2026 foi estimado em R$ 25,8 bilhões — dinheiro que, claro, vem do Estado e, portanto, do conjunto da sociedade. Por isso Lira manteve a isenção para quem ganha até R$ 5 mil e ampliou os descontos progressivos até R$ 7.350, enquanto o texto original do governo previa até R$ 7.000. Para compensar a perda de arrecadação, manteve-se a ideia de tributar com alíquota progressiva, de até 10%, quem ganha mais de R$ 600 mil por ano. Ou seja: taxar os muito ricos para aliviar os de baixo. Quem ganha até R$5 mil não pode esperar o jogo sujo dos poderosos.

Rivalidade em Alagoas

A política alagoana entra no tabuleiro: Lira e Renan devem disputar as duas vagas ao Senado em 2026 — e ambos sabem que qualquer vitória nessa briga consolida poder e recursos. Aliados de Lira asseguram que o presidente Lula não tem imposto resistência à candidatura do deputado; outros veem nisso apenas o reflexo de um campo político que precisa se articular. Para a sociedade, porém, o que importa é que a disputa não paralise a decisão de aliviar a carga tributária sobre os salários médios e baixos. Não é hora de jogar a vida das pessoas na disputa eleitoreira!

Que fique claro: aprovar a isenção é uma medida de justiça social e de recuperação do poder de compra de quem trabalha. Mas para que isso aconteça é preciso que a política supere a política de gabinete — que os parlamentares parem de transformar tudo em palanque e comecem a agir com responsabilidade fiscal e solidariedade social. Lula e o PT podem e devem ser protagonistas dessa etapa: não para acomodar caciques, mas para empurrar a pauta que favorece os trabalhadores, taxando os ricos e fortalecendo o Estado. Se a disputa entre Renan e Lira servir apenas para atrasar isso, saibamos identificar o inimigo: não é o projeto, é a velha política que privilegia ambições sobre necessidades populares.

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