O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a ser internado em Brasília nesta terça-feira (16), depois de apresentar quadro de mal-estar: crise de pressão baixa, soluços e vômitos. A equipe médica informou que ele passará a noite no Hospital DF Star, onde deu entrada pela emergência. O episódio ocorre enquanto Bolsonaro cumpre prisão domiciliar determinada pelo ministro Alexandre de Moraes — medida que interrompeu a caminhada do capitão do golpe e simboliza o recado duro do Supremo contra quem tentou subverter a democracia. Não é só política: o corpo também tem limites, e hoje o corpo do ex-presidente avisou.
“O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, apresentou neste momento episódio de mal-estar, pré-síncope e vômitos com queda da pressão arterial, sendo necessário ir à emergência do Hospital DF Star”, informou a defesa do ex-presidente. Na porta do hospital, quem falou à imprensa foi um de seus filhos: “Ele sentiu o diafragma travar, o que o deixou sem ar e levou ao vômito, para liberar a via respiratória”, declarou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A cena — família reunida, explicações apressadas, aparelhos e frieza hospitalar — contrasta com os discursos contundentes que por anos alimentaram o bolsonarismo nas ruas e nas redes.
É impossível separar o episódio médico do contexto político: Bolsonaro enfrenta investigação por tentativa de atrapalhar o processo que apurou o golpe entre o fim de 2022 e início de 2023, e foi condenado pelo STF a 27 anos e 3 meses pela trama golpista. Entre prisão domiciliar, recursos e a militância radical que ainda o idolatra, o homem que convocou insurreições hoje depende de monitoramento e de laudos médicos. Hipocrisia? Ou apenas a prova de que a aritmética política tem limites quando o corpo decide actuar por conta própria?
Histórico médico
No domingo (14), Bolsonaro havia sido submetido a um procedimento para retirada de lesões cutâneas. “O procedimento cirúrgico foi realizado sob anestesia local e sedação, e transcorreu sem intercorrências. Foi realizada a exerése marginal de oito lesões de pele, localizadas no tronco e no membro superior direito”, informou o boletim do hospital. As lesões foram encaminhadas para biópsia, e a equipe médica anunciou que fará avaliação do tratamento complementar necessário.
Exames laboratoriais apontaram anemia e uma tomografia de tórax revelou “imagem residual de pneumonia recente por broncoaspiração”. O hospital também registrou que Bolsonaro recebeu reposição de ferro por via endovenosa. Em abril, ele havia passado por outra cirurgia intestinal, sequela das complicações originadas da facada de 2018 — feridas físicas que persistem, assim como as feridas políticas que tentou infligir ao país. Enquanto o corpo pede cuidados, a história segue cobrando responsabilidades.
Diante desse quadro, há quem trate o episódio com compassividade teatral, transformando a enfermidade em espetáculo de autopiedade. Do nosso lado, não nos compadecemos do gesto, mas não negamos a gravidade humana de alguém que, até pouco tempo, organizava ataques institucionais. Há uma diferença entre humanidade e perdão político: a primeira cabe a qualquer ser vivo; o segundo só se constrói mediante arrependimento e reparação — coisas que o bolsonarismo nunca demonstrou.
A internação de Bolsonaro é um lembrete singular: as batalhas pela verdade e pela justiça não se encerram em estádios ou em palanques. O país precisa continuar atento, vigilante e mobilizado para garantir que o ciclo golpista esteja, de vez, superado. Se alguns querem transformar cada crise em narrativa de mártir, que não nos calem: é hora de empurrar adiante a reconstrução democrática liderada por quem hoje representa uma alternativa real de mudança social. Afinal, enquanto a direita se reinventa em lamentos, nós construímos respostas populares para tirar o Brasil das garras dos bilionários e das privatizações — e para isto não há repouso.