luta socialista

Pesquisa Quaest revela: 41% dos brasileiros rejeitam anistia geral, inclusive para Bolsonaro, enquanto 36% apoiam perdão total

A mais recente pesquisa Quaest escancara uma disputa clara: 41% dos brasileiros dizem não à anistia para quem participou da tentativa de golpe após a eleição de 2022, enquanto 36% defendem o perdão geral, incluindo o próprio Jair Bolsonaro. A consulta ouviu 2.004 pessoas entre 12 e 14 de setembro e tem margem de erro de 2 pontos. Além disso, 10% só aceitariam anistia para os manifestantes do 8 de janeiro, e 13% não souberam ou não responderam. O resultado é um retrato de um país que não aceita, passivamente, a banalização da impunidade — e que divide linhas de classe, região e religião na hora de decidir se legitima ou não um golpe político falido.

Pesquisa e divisão social

“Não há clima na sociedade brasileira hoje para uma anistia em relação ao ex-presidente. São 51% ‘não anistia’ ao ex-presidente Bolsonaro, somando os 41% que são contra [qualquer anistia] com os 10% que topam anistia apenas para os manifestantes.” — Felipe Nunes, diretor da Quaest

Os números confirmam o que qualquer pessoa minimamente atenta já percebeu nas ruas e nas redes: há resistência à restauração dos que atacaram a democracia. Isso não é apenas uma disputa jurídica: é um embate sobre memória, justiça e quem manda neste país. Do outro lado, o bolsonarismo e seus apoiadores patinam numa narrativa de vitimização — como se a destruição de instituições e o incentivo à violência pudessem ser perdoados com meia-dúzia de slogans e manchetes inventadas.

A divisão por perfil político é claríssima e não surpreende: entre os lulistas, 58% são contra a anistia; entre a esquerda não lulista, a rejeição sobe para 73%. Já entre bolsonaristas, 62% querem perdão para todos — incluindo o ex-presidente condenado. Isso não é um dado neutro: mostra que o apoio à impunidade é um marcador político da direita extremista, enquanto as bases populares continuam defendendo que atos antidemocráticos não podem cair no esquecimento.

Uma sociedade que perdoa quem tentou destruir suas instituições corre o risco de normalizar o precedente — e isso ninguém sério pode aceitar. O ridículo do discurso pró-anistia fica ainda mais evidente quando cruzamos renda e escolaridade: mais escolarizados e segmentos de menor renda tendem a rejeitar o perdão, enquanto quem tem maior renda e se concentra no Sul e Centro-Oeste aparece mais favorável.

Religião e gênero também aparecem na equação: católicos mostraram-se mais contrários à anistia que evangélicos, e mulheres, em regra, se posicionaram com mais firmeza contra o perdão. A leitura é simples: quem vive na pele a precariedade e depende do Estado para direitos básicos não aceita naturalizar impunidades que acentuam desigualdades e ameaçam direitos civis.

O que tudo isso diz à esquerda e às forças populares? Primeiro, que há base social forte para resistir à agenda da direita que quer limpar a barra de seus líderes e financiadores. Segundo, que Lula e o PT, além de alternativa eleitoral, podem ser centrais na construção de um projeto que traduza essa repulsa à anistia em políticas concretas de reparação, fortalecimento das instituições e ampliação dos direitos. Se a direita navega em ódio e nostalgia autoritária, nós precisamos de projeto, organização e capacidade de mobilização.

A disputa sobre anistia não é abstrata: é decisão sobre futuro, sobre quem poderá voltar a chantagear a democracia e proteger interesses privados e privatistas. A nossa tarefa, portanto, é clara: derrotar politicamente o bolsonarismo e suas tentativas de impunidade, fortalecer as estatais e as políticas públicas que servem ao povo, e transformar esse sentimento majoritário contra a anistia em luta organizada por justiça e reformas democráticas. Apenas assim a memória dos ataques antidemocráticos será reafirmada como lição — e não enterrada como escudo para privilegiados.

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