O Copom se reúne hoje e, como esperado, deve manter a Selic em 15% ao ano — o maior patamar em quase duas décadas. Enquanto o país sufoca com juros que castigam o bolso do povo, as vozes do mercado respiram aliviadas: juros altos protegem lucros, não a vida das pessoas. Manter a Selic nesse nível é, na prática, um imposto sobre quem compra comida e paga boletos. O Banco Central diz que age para conter a inflação; a verdade é que essa política joga o freio na economia e facilita que a direita e seus amigos do grande capital continuem lucrando com a estagnação.
Os economistas do mercado já sinalizam que o juro deve ficar por aqui “por um período bastante prolongado” — palavra do próprio BC — e as projeções colocam o início de um ciclo de cortes apenas no final de janeiro do ano que vem ou, na visão mais conservadora dos bancos, só em 2026. “A inflação corrente trouxe ‘algum alívio’ e as expectativas recuaram, ‘mas ainda de forma modesta, e permanecem substancialmente acima da meta de inflação para diferentes prazos'”, disse o Itaú Unibanco. “Mantemos nossa expectativa de início do ciclo de cortes apenas no 1º trimestre de 2026. Reconhecemos, entretanto, que os riscos aumentaram na direção de um corte antecipado ainda em 2025…” — Itaú Unibanco. Traduzindo: mercado admite melhora tímida, mas prefere juros altos até quando for preciso para garantir juros aos rentistas — mesmo que isso sacrifique emprego e consumo popular.
Como age o Banco Central?
O BC opera pelo sistema de metas de inflação: se as projeções estiverem dentro da meta, os juros podem cair; se estiverem acima, eles sobem ou se mantêm. Desde o começo de 2025 vigora a meta contínua com objetivo central de 3% (aceitando faixa entre 1,5% e 4,5%). Como a inflação ficou por seis meses seguidos acima da meta, o BC teve de explicar publicamente suas ações. Importante lembrar que a Selic age com atraso de seis a 18 meses — hoje o Banco já mira a meta pensando no primeiro trimestre de 2027. As projeções do mercado para a inflação são preocupantes: 4,83% para 2025 (estouro da meta), 4,30% para 2026, 3,9% para 2027 e 3,7% para 2028 — isto é, uma sequência que só garante conforto ao mercado, não ao povo.
Desaceleração da economia
O Banco Central tem sido claro: desacelerar a economia faz parte da estratégia anti-inflacionária. Isso significa menos crédito, menos investimento e pressão sobre a geração de empregos. “A conjuntura de atividade econômica doméstica tem indicado certa moderação no crescimento e, ao mesmo tempo, apresentado dados mistos entre os setores e indicadores” — disse o Banco Central na ata de agosto. Enquanto isso, o desemprego recuou para 5,6% no trimestre encerrado em julho, o menor nível da série histórica do IBGE — uma boa notícia que não apaga o peso dos juros sobre o cotidiano das famílias.
Rafael Cervone, presidente do Ciesp, aponta o óbvio: o problema fiscal emperra qualquer alívio real. “É prioritário que o setor público, abrangendo a União, os estados e os municípios, faça um enorme e responsável esforço para conter os déficits e equilibrar suas contas. Não podemos continuar convivendo com juros elevados e rombo fiscal…” — Rafael Cervone, Ciesp. Tradução: o empresariado diz querer ajuste fiscal, mas não fala em taxar os bilionários, em defender estatais ou em investir para crescer com justiça social. Enquanto o ajuste recai sobre o povo, o patrimônio das elites segue intocado.
O que está claro é que juros altos e rombo fiscal se retroalimentam e drenam a força da economia. Os ricos continuam rindo enquanto o resto paga a conta. O caminho que a esquerda deve empurrar é outro: fortalecer estatais estratégicas, reestatizar setores essenciais, taxar grandes fortunas e direcionar crédito público para o investimento produtivo e social.
Se o Copom optar por manter a Selic, não será por surpresa: será por opção política — a opção de proteger mercados em vez de proteger a vida. A resposta, portanto, não pode ser apenas técnica: precisa ser política, popular e ofensiva. Lula e o PT, mais do que gestão, precisam traduzir essas decisões em luta por um projeto que enfrente a ganância dos mercados e coloque o Brasil a serviço do povo. Quem acha que dá para acomodar juros altos, ajuste fiscal e justiça social está enganado — ou trabalha para os mesmos de sempre. E nós não vamos aceitar que imponham esse plano aos nossos direitos.