A escolha de Eduardo Bolsonaro para a liderança da minoria na Câmara soa como piada de mau gosto — ou como a última cartada de uma direita desnorteada que agora opera a partir dos Estados Unidos. Enquanto o Brasil enfrenta crises sociais e políticas, o filho do ex-presidente decidiu morar em solo americano e ainda assim ser colocado como chefe do bloco oposicionista. O episódio é revelador: não só mostra o desespero estratégico do bolsonarismo, como também expõe as brechas regimentais que a direita usa para tentar escapar de responsabilidades legais e eleitorais. É a tentativa de transformar o mandato em bunker diplomático.
“Esta presidência não pode tomar nenhuma providência na base da especulação. Nós estamos ainda no campo das notícias. Aguardaremos a presidência ser oficiada sobre a decisão da liderança da minoria. É claro que se trata de um caso atípico. Vamos fazer uma análise, conversar com os partidos de oposição e, no momento certo, responderei à questão de ordem” — Hugo Motta (Republicanos-PB). Motta, com toda a cara de quem prefere empurrar com a barriga, admite que o caso é “atípico” e que a Mesa Diretora terá de analisar se um deputado que mora no exterior pode, de fato, comandar um bloco parlamentar. A transparência, a rigor, é a última coisa que se espera quando a direita está em jogo.
Como Eduardo foi escolhido
A saída teatral foi assim: a atual líder da minoria, Caroline de Toni (PL-SC), renunciou ao posto para “transferir” a liderança ao colega. “Confiamos na capacidade dele de conduzir essa liderança com responsabilidade e coragem” — Caroline de Toni (PL-SC). Responsabilidade e coragem? Seria engraçado se não fosse patético. O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), garante que Caroline seguirá no plenário e representará Eduardo quando ele estiver ausente, enquanto o novo chefe vive entre Miami e encontros com a direita internacional. “Como o ato da Mesa é claro, não há necessidade de retorno formal da Presidência da Câmara sobre a escolha” — Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
Mas técnicos da Casa veem com desconfiança: a manobra parece mais uma blindagem do que um gesto de confiança. Blindagem contra quê? Contra processos legítimos que podem culminar em perda de mandato por faltas acumuladas. E não é teoria conspiratória: há quem acredite que a escolha busca justamente proteger Eduardo de punições por excesso de ausências.
Como fica o mandato
Pelas regras constitucionais, um parlamentar pode perder o mandato se faltar a um terço ou mais das sessões no ano. A Mesa, em atos de 2015, já previra justificativas para ausências de líderes em sessões deliberativas — mas ninguém tocou no ponto: morar no exterior. A oposição aposta nessa brecha para garantir que Eduardo continue a desfrutar dos benefícios do cargo, enquanto pratica política externa às custas da soberania nacional ao buscar apoio de Donald Trump para pressionar por anistia ao pai e retaliação ao STF.
Também é preciso lembrar o contexto: Eduardo já é investigado por suas tentativas de articular sanções externas contra o Brasil e por incentivar ações que se aproximam de tentativas de desestabilização. Enquanto isso, a esquerda precisa aproveitar episódios como este para desnudar a hipocrisia das forças que se dizem “defensoras da liberdade” e, na prática, protegem milicianos e bilionários que aterrorizam a democracia.
A questão não é só técnica; é política e moral. A Câmara não pode virar cartório de manobras para indivíduos que transitam entre Washington e Brasília enquanto atacam instituições e buscam impunidade. Este é o momento de exigir clareza e aplicação rigorosa das regras — e de fortalecer uma agenda que defenda estatais, serviços públicos e a soberania nacional contra as garras do bolsonarismo e seus aliados internacionais. Se a Mesa hesitar, que o faça sob o peso das críticas: a direita não merece trégua e o país não pode ser refém de jogadas aparentemente jurídicas, mas abertamente políticas.