A cena é escandalosa, previsível e óbvia: enquanto o país sofre pressões políticas e precisa de presença e debate no Parlamento, um deputado decide morar temporariamente nos Estados Unidos para conspirar contra o Brasil — e ainda por cima tenta se aproveitar de uma brecha na legislação para ser tratado como “líder presente”. Isso não é política, é trapaça com passaporte americano! Eduardo Bolsonaro resolveu transformar a Câmara num balcão de negócios externos do clã Bolsonaro, e os partidos que o escolhem como líder da minoria mostram até onde vai a cumplicidade entre traidores do país.
A história tem um detalhe irônico: a brecha que o PL quer usar foi justamente reduzida por uma política que combatia o ausentismo oportunista. Em 2015, a então deputada Mara Gabrilli, não por acaso responsável pela Mesa Diretora encarregada da assiduidade, apertou o cerco aos faltosos e revogou o inciso 5º do Ato nº 66 de 2010 — mantendo apenas exceções para líderes partidários e membros da mesa, justamente para quem exerce dupla jornada e precisa gerir reuniões e atividades fora do plenário. “Deixei apenas a possibilidade de faltas injustificadas para quem faz dupla jornada. Líderes e membros da mesa, além do trabalho parlamentar rotineiro, vivem em reuniões e nem sempre podem estar em plenário” — Mara Gabrilli (PSDB-SP).
Hoje, o espetáculo é outro: o PL pretende transformar essa exceção legítima em escudo para um Bolsonaro que há semanas vive nos EUA articulando sanções contra o Brasil, pedindo favores ao governo americano para pressionar a justiça e pleitear anistia para seu pai. Ele chegou a se licenciar do mandato para fazer lobby no exterior — prática que, além de eticamente reprovável, tem cheiro forte de crime de ingerência. É um escárnio ver um deputado ausente ser tratado como “líder” enquanto trama contra a própria nação.
Mara, com a autoridade de quem mudou a regra para impedir abusos, não poupou críticas ao movimento: “Que líder partidário é esse que está do outro lado do planeta e não trabalhando na Casa? O espírito dessa medida é permitir que o líder possa trabalhar mais no Legislativo e não o contrário, como querem fazer agora” — Mara Gabrilli (PSDB-SP). Chamar isso de oportunismo é pouco; trata-se de um insulto às instituições e à soberania nacional. Bater palma para quem busca sanções externas contra o país deveria ser motivo único e suficiente para a expulsão política imediata desse grupo.
Não se trata apenas de uma picuinha administrativa. O que está em jogo é o projeto político do país: bolsonarismo e sua ramificação neoliberal sempre funcionaram misturando prosperidade para poucos — bilionários de direita adoradores de privatizações — com autoritarismo e desdém pelas regras. Agora, quando alguns tentam usar brechas para legitimar uma espécie de exílio diplomático privado, a esquerda tem o dever de reagir com firmeza e clareza. O legado de luta que Lula e o campo popular representam passa exatamente por não ceder aos chantagistas domésticos e estrangeiros, por proteger estatais e soberania, e por criminalizar tentativas de subordinação do Estado a interesses privados e estrangeiros.
O PL, que se diz defensor de “ordem” e “patriotismo”, hoje abraça um deputado que prefere estratégia internacional para livrar a própria família de investigações e punições. É o bom e velho teatro: gritar patriotismo enquanto se alimenta da destruição das instituições. Não podemos aceitar que uma Câmara vulnerável permita que brincadeiras de bastidores substituam responsabilidade pública.
O movimento para barrar essa manobra precisa ser amplo: denúncia pública, mobilização parlamentar e pressão popular. A luta contra o bolsonarismo e suas manobras não é só eleitoral; é institucional e cotidiana. Não aceitamos que traidores da pátria usem a letra da lei para violentar o espírito da democracia. Quem quiser ser líder, que esteja aqui, no plenário, de cabeça erguida, respondendo por suas ações — e não embaixador de interesses estrangeiros disposto a vender o país por impunidade.