luta socialista

Milton Salvador nega ser sócio do ‘Careca do INSS’ e afirma nunca ter recebido dinheiro ilegal

O depoimento de Milton Salvador de Almeida Júnior na CPI do INSS foi mais um ato de um espetáculo que já começa a cheirar a desculpas ensaiadas e a blindagem para os mesmos esquemas que saqueiam aposentados e pensionistas. Enquanto o país observa, um personagem conhecido como “Careca do INSS” aparece como articulador de um esquema que transformou associações de aposentados em balcões de transferência de recursos — e os responsáveis por prestar contas preferem dizer que “não sabiam”, como se a ignorância fosse um atestado de inocência.

“Não sou, nunca fui e jamais serei [sócio do Careca do INSS]. Sou prestador de serviços. Ele contratou minha empresa para prestar serviços à empresa dele. Jamais fui sócio de qualquer das empresas do Careca do INSS” — Milton Salvador de Almeida Júnior. A declaração soa grandiloquente, mas o que pesa, no fim, são as evidências e a ausência de documentos. Milton não apresentou papéis que comprovassem suas alegações, e isso irritou parlamentares presentes. A impaciência no parlamento é compreensível: quando se trata de dinheiro público destinado a quem já pagou a sua conta com uma vida de trabalho, desculpas não substituem provas.

Fluxo financeiro

Quando questionado sobre o fluxo financeiro das empresas, Milton afirmou números que deveriam acender todos os alarmes: “No período em que estive lá, algo muito próximo a uma média de R$ 10 milhões por mês” — informação que revela a dimensão do negócio que girava em torno de associações de aposentados. Ele disse ter sido diretor financeiro por 14 meses, com um contrato de R$ 60 mil mensais, e que só deixou a diretoria após a operação da Polícia Federal. “Identifiquei [que estava envolvido em organização criminosa], quando recebi a PF lá. O que eu via era via Metrópoles, via imprensa e os questionamentos que eu fiz ele [Antunes] negou todos. A mim dizia que não fazia nada de irregular”, explicou.

Milton diz que fazia operações bancárias e emitia notas a pedido de Antunes, mas alega não ter competência para checar a veracidade dos serviços. A ausência de documentos e a explicação de que “acreditou” nas negativas do suposto chefe não apagam o rastro de milhões que passaram por essas empresas. A Polícia Federal foi clara ao apontar que as empresas usadas por Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, funcionavam como intermediárias financeiras, recebendo recursos de associações que, em parte, foram redirecionados a servidores do INSS. “Em razão disso, essas empresas recebiam recursos de diversas associações que, em parte, foram destinados a servidores do INSS” — Polícia Federal.

As falas de Milton incluem ainda a negativa de ter pegado dinheiro em espécie, de ter visto políticos em contato com Antunes ou de ter entrado no prédio do Ministério da Previdência Social. Tudo isso compõe um quadro de negações que costuma acompanhar escândalos: muita conversa, pouca prova. E quando a prova aparece, costuma revelar um nó de relações entre operadores, empresas de fachada e interesses privados que se alimentam da fragilidade de serviços públicos.

É justamente esse modelo predatório que a direita — com seu discurso de mercado livre, privatizações e enxugamento do Estado — quer aprofundar, transformando serviços públicos em terreno fértil para saque. Não é por acaso que esquemas como esse florescem num país com instituições porosas e com elites dispostas a lucrar em cima da vida de quem mais precisa.

A CPI tem aqui um papel fundamental: não apenas apontar responsabilidades, mas desmontar as redes que permitem que operadores como o “Careca do INSS” atuem com tanta facilidade. Se a sociedade quer justiça, não basta ouvir declarações bem ensaiadas; é preciso transparência, punição e a reconstrução de uma Previdência pública forte, sem espaço para intermediários de aluguel. O que se viu nesta sessão é um aperitivo do que precisa ser enfrentado com firmeza — e sem complacência.

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