A fúria explícita de Valdemar Costa Neto contra Davi Alcolumbre não é apenas mais um episódio de briga entre caciques: é a cara do desespero da direita que se vê deslegitimada e acuada. Depois do recado público de Alcolumbre a Eduardo Bolsonaro e de sinais trocados em corredores com líderes, a temperatura entre PL e Senado subiu até ferver. Valdemar, com o cinismo de sempre, transformou a chantagem em discurso aberto: ameaças de obstrução, previsões de derrota eleitoral e uma acusação direta ao presidente do Senado.
“Davi Alcolumbre trabalha para o Supremo, não trabalha para nós. Mas vai pagar caro por causa disso. Vai pagar caro se ele não se comportar como tem de se comportar, como um presidente do Senado tem que se comportar” — disse Valdemar Costa Neto em entrevista a uma rádio de Minas. A fala é pura intimidação: a mesma elite que tem tentado impor a agenda do bolsonarismo e abrigado políticos golpistas agora pretende coagir quem deveria zelar pela institucionalidade. É gelada a frieza com que se anuncia que “vai pagar caro” — um eufemismo para retaliação política que cheira a chantagem.
“Ao admitir planejamento de golpe, Valdemar Costa Neto joga contra Tarcísio”, apontou Valdo Cruz ao analisar o episódio, e é impossível não ver a lógica perversa dessa exposição. Quando a direita se mostra tão abertamente disposta a interferir nos rumos do Senado, quem perde é a já frágil legitimidade das poucas instituições democráticas que restam. A tentativa de ceminar medo nas lideranças do Congresso revela mais fraqueza do que força: não há poder que se sustente apenas com bravatas e ameaças públicas.
Alcolumbre, por sua vez, tem evitado alimentar o chefe do PL com respostas diretas. Interlocutores do presidente do Senado avaliam que esse tipo de pressão não surte efeito com ele — e acrescentam que o recado de Valdemar e de Eduardo Bolsonaro pode sair pela culatra: “Os ataques de Valdemar Costa Neto e de Eduardo Bolsonaro a Alcolumbre vão reforçar a rejeição no Senado tanto à PEC da Blindagem quanto a um projeto de anistia aos golpistas de 8 de janeiro de 2023”. Isso mostra que, quanto mais os bolsonaristas tentam amedrontar, mais expõem o caráter antidemocrático de suas propostas.
Não se trata apenas de vaidade política: a ameaça de impedir os trabalhos do Senado caso a anistia não seja pautada é uma tentativa explícita de pulverizar a noção de responsabilidade democrática em favor da impunidade. E essa impunidade é o que sempre alimentou o bolsonarismo — quando criminosos políticos veem portas abertas para escapar das consequências, a democracia inteira empobrece.
O jogo da direita agora é de duas faces: por um lado, postam-se como vítimas de um “establishment”, enquanto, por outro, exercem pressões subterrâneas e abertas para frear a investigação e a punição dos responsáveis pelo golpe de 2023. Não é coincidência que figuras como Valdemar e Eduardo usem desses artifícios — eles sabem que a grande aposta é impedir que se feche a conta com os golpistas e que, ao mesmo tempo, preservem espaços de poder para projetos privatistas e antipopulares.
Se o Senado ceder à chantagem, o Brasil paga a conta: fortalecimento da impunidade, fragilização institucional e avanço das políticas que servem aos ricos e às oligarquias. Ao contrário, a resistência institucional e a recusa em negociar a anistia são sinais de que ainda existe fôlego para reconstruir uma agenda democrática e popular.
É hora de defender o que resta da democracia com clareza e coragem. Quem tenta intimidar com ameaças públicas deve ser exposto como o que é: inimigo da justiça, aliado da impunidade e parceiro dos que desejam desmontar o que o povo conquistou. O Senado encontra-se num desses momentos em que não pode vacilar — ceder seria acender o palco para novos ataques autoritários, e a história cobrará caro quem escolher o silêncio cúmplice.