luta socialista

Conluio por redução de penas provoca crise no bolsonarismo e ameaça apoio a ex-presidente

O cenário é claro: por baixo do verniz da “paz” parlamentar, um conluio entre centrão, PL e setores do próprio sistema judiciário tenta transformar a anistia sonhada pelos bolsonaristas em um lote de perdões pela metade — redução de pena para poucos privilegiados. Enquanto a base extrema-direita explode em fúria e vocifera por anistia ampla, setores do Congresso articularam, em reuniões com figuras como Michel Temer e Aécio Neves, a substituição do perdão geral por um projeto de dosimetria que facilita a diminuição de penas. O objetivo? Tornear resistências do Supremo e conseguir apoio no Senado. O resultado? Traição explícita ao discurso “tudo ou nada” vendido nas redes do capitão exilado.

A Jair Bolsonaro e seus acólitos sobra o discurso de despeito: Eduardo Bolsonaro repete como mantra a exigência da anistia ampla, e aliados como Paulo Figueiredo — hoje nos EUA — reafirmam que o perdão será “amplo, geral e irrestrito, por bem ou por mal”. “Anistia seria ampla geral e irrestrita por bem ou por mal” — Paulo Figueiredo. Do outro lado, o relator Paulinho da Força passeia por um corporativismo rasteiro: propõe redução de pena como “meio-termo” para “pacificar o país”. “a ideia é pacificar o país, um projeto meio-termo” — Paulinho da Força. Quem diria: pacificação às custas de ajuste fino jurídico para beneficiar quem violou instituições, não para recuperar direitos populares!

A reação no PL foi imediata e histérica — e não por princípios jurídicos, mas por disputa de poder: o líder Sóstenes Cavalcante estourou, dizendo que não aceitaria uma substituição que, na verdade, desmontaria a narrativa da anistia que alimenta a tropa. “Onde já se viu alguém da direita votar para reduzir pena? Quem reduz pena é a esquerda. Não aceitamos. Ele vai sentar conosco semana que vem bancada do PL para falarmos disso. Não entrei em mérito com ele ainda”, afirmou Sóstenes Cavalcante. A cena é tragicômica: a direita que se diz “duro com bandidos” chora porque vão reduzir penas sem que todas as mordomias sejam restauradas de uma só vez.

Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, joga gasolina no fogo ao afirmar que o relator fala sem ter voto e que é preciso negociar porque “Bolsonaro sempre falou em anistia para o 8 de janeiro”. “o relator da agora chamada PL da dosimetria, está falando em redução das penas ao invés da anistia ‘sem saber se tem voto e que o PL não apoia [a dosimetria] e que Bolsonaro sempre falou em anistia para o 8 de janeiro e que é preciso negociar’” — Valdemar da Costa Neto. Ou seja: a cartilha é a velha negociata de sempre — bancada, acordos por cima das costas da mobilização popular, café com bolos no gabinete.

E o que aprendemos com tudo isso? Primeiro, que o bolsonarismo não é um bloco monolítico; é uma gangue em disputa por benefícios e poder. Segundo, que o centrão, ao negociar atrás das cortinas, mostra de novo que seus compromissos são com os acordos que lhe garantem fatias do Estado, não com a “lei” ou com a “ordem”. É preciso denunciar essa chantagem parlamentar que troca estabilidade institucional por impunidade para os de sempre.

Enquanto isso, fica claro que a saída política não é terceirizar esperanças para negociações entre caciques. Precisamos de uma frente popular capaz de derrotar politicamente esses impostores e de reafirmar o papel das instituições republicanas contra a farra das oligarquias. O PT e Lula, apesar de todas as contradições e limites do reformismo passado, reaparecem como eixo possível de uma nova etapa de luta — não apenas eleitoral, mas para refundar políticas que ataquem a desigualdade, defendam as estatais e esfriem a água morna das privatizações.

A trégua de gabinete não interessa ao povo: a verdadeira resposta é política, organizada e de combate às redes de favorecimento que alimentam bolsonarismo e centrão. Ou o país reage com mobilização popular e construção de alternativas genuinamente transformadoras, ou veremos esses arranjos de bastidores empurrando o Brasil para mais retrocessos. A hora é de denunciar, organizar e disputar nas ruas e nas urnas — sem ilusões com os que negociam perdões em nome de “paz” e debaixo dos lençóis do poder.

Mais notícias para você
30da2f33-41e8-4414-b665-adf9db9ef4bd
Aneel ainda não decidiu sobre renovação da concessão da Enel em São Paulo, alerta diretor

A Aneel ainda não deu o veredito final sobre a renovação da concessão da Enel em São Paulo, mas já...

1d6a48e9-904f-41ed-8ec2-391ea141325f
Alexandre de Moraes libera redes de Carla Zambelli com multa diária por posts de ódio

A decisão do ministro Alexandre de Moraes de revogar o bloqueio de perfis e canais associados à deputada Carla Zambelli...

f7f7a5e1-5125-4c05-b0ec-c7623e54ef81
Relator alinhado ao bolsonarismo pode definir o destino de Eduardo Bolsonaro no Conselho de Ética

A decisão que afastou Eduardo Bolsonaro da liderança da minoria na Câmara veio envolta em justificativas “técnicas” — exatamente o...