A iniciativa de Paulinho da Força como relator do projeto-substituto da anistia aos golpistas de 8 de janeiro virou um terremoto político: agradou aos presidentes do Congresso que já foram ameaçados por Eduardo Bolsonaro, irritou a base bolsonarista e deixou o PL em frangalhos. A mistura entre firmeza e mediação do deputado do Solidariedade não é só técnica — é política, e tem provocado um racha que expõe quem quer pacificação e quem prefere incendiar o país de novo.
A crítica pública de Paulinho ao deputado Eduardo Bolsonaro não é gesto isolado, é sinal de que há quem, no parlamento, canse das ameaças e do teatro golpista. “Se tiver novas sanções, no meio da discussão desse projeto, vai atrapalhar e muito. Espero que o Eduardo Bolsonaro, que já fez algumas besteiras quando fez o tarifaço contra o Brasil, que ele possa pôr a mão na consciência e perceber que qualquer coisa que fizer neste momento de sancionar o país ele coloca fogo no parquinho” — Paulinho da Força (Solidariedade-SP). Quem esperava que a velha conciliação com os extremos seguisse impune, quebrou a cara. Afinal, quem banca o caos quando o objetivo é “pacificar” o país?
Não é surpresa que a fala tenha agradado a Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB), dois que já sentiram o dedo em riste do clã Bolsonaro. Mas causou furor no PL — e isso diz muito. Líderes do partido reclamam que Paulinho está escrevendo o texto sem consultar os “principais interessados”. “Ele ainda não nos procurou, os principais interessados, e já está definindo um projeto sem nos ouvir” — líder do PL. Outro integrante do PL foi mais direto ao denunciar o estrago político: “o relator só piora as coisas ao criticar o filho do ex-presidente da República.” — outro líder do PL.
Paulinho, por sua vez, tem jogado com transparência: diálogo com STF, interlocução com as casas, e uma posição clara sobre os limites da anistia. “Anistia ampla, geral e irrestrita não existe mais.” — Paulinho da Força (Solidariedade-SP). Essa frase deveria ecoar nos corredores do PL como um alerta: não há retorno ao vale-tudo que legitima golpes e violência política. O relator tenta construir algo que efetivamente traga estabilidade e responsabilização — e isso significa fechar espaço para imunidade aos atos antidemocráticos.
O embate também revela um contraste político maior. De um lado, a direita bolsonarista insiste na impunidade como estratégia de poder; do outro, há atores que, ainda que com limites, tentam reconstruir instituições e impedir a normalização do autoritarismo. Não é neutralidade: é escolher entre consolidar a democracia ou enterrar o país sob um verniz de normalidade que protege criminosos políticos. E cá entre nós, quem protege golpistas não quer paz — quer vitória.
Como socialista e militante, vejo nessa disputa uma oportunidade política. É hora de derrotar, politicamente, o bolsonarismo e suas ramificações! Não precisamos só de palavras contra ameaças: precisamos de leis que punam, de memória ativa e de um projeto popular que recupere o Estado para a sociedade — com estatais fortes, com o combate às privatizações e com políticas que ataquem a concentração de renda que alimenta oligarquias e milícias.
Se Paulinho manter o curso e negociar com firmeza, o texto pode ser um instrumento para fechar o capítulo dos ataques autoritários e abrir uma nova fase de responsabilização. Se ceder aos argumentos do PL que pedem anistia plena, estaremos optando por enterrar a democracia em nome do cálculo eleitoral. Quem vai decidir isso é o parlamento — e, claro, a luta social nas ruas e nas urnas.
No fim das contas, a crise em torno do relator e do pedido de anistia é um sintoma: a direita golpista tenta se recauchutar, o establishment busca contenção, e o povo organizado precisa empurrar para que a responsabilização vença. Lula e o PT, nessa conjuntura, aparecem como peças centrais para articular uma saída que não repita os mesmos erros — mas não bastam palavras: é preciso força política e mobilização social para desmontar essa direita e defender um projeto de transformação popular. Quem quer história ou quem quer revanche? O tempo dirá — e a nossa tarefa é pressionar para que seja pela democracia e pelos trabalhadores.