O ministro do Turismo, Celso Sabino, comunicou ao presidente Lula nesta sexta-feira (19) que pedirá demissão do governo após pressões internas do União Brasil. A conversa aconteceu na residência oficial do Palácio da Alvorada, em um encontro marcado mais pela chantagem política que por lealdade institucional: o partido decretou que seus filiados deixem cargos no governo em até 24 horas, e Sabino decidiu seguir a orientação da legenda — ainda que tentasse esticar o calendário para cumprir agendas no ministério. Sabino avisou Lula que vai pedir demissão quando o presidente retornar da Assembleia Geral da ONU, prevista para quinta-feira (25).
Desembarque do governo
O União Brasil, party of the right that has cozied up to bolsonarismo em vários momentos, aprovou uma resolução que obriga a saída imediata de seus filiados do Executivo federal, sob pena de sanções disciplinares, incluindo expulsão. A medida foi tomada depois da divulgação de reportagens que mencionam uma suposta conexão entre o presidente nacional do partido, Antonio de Rueda, e o Primeiro Comando da Capital (PCC). “Há uma percepção de uso político da estrutura estatal para desgastar Rueda”, disse o União Brasil em nota. Predictably, Rueda negou as acusações: “Nego as alegações”, afirmou Antonio de Rueda.
Esse ultimato mostra o caráter rasteiro e eleitoralista do bloco: em vez de responder às acusações com transparência, o partido prefere jogar seus quadros no mercado político como se fossem peças descartáveis. O resultado é um desmanche momentâneo no interior do governo, com ministros de uma legenda que não suporta o projeto democrático-popular tentando puxar o tapete de dentro. O desembarque do governo é, portanto, expressão do que sempre denunciamos: aliados de direita prontos para trocar lealdade por conveniência política.
A pressa do União Brasil também abre espaço para o governo Lula reagir politicamente. Sabino vinha conversando com dirigentes e aliados para tentar evitar a saída, e queria — ao menos — ficar até a realização da COP30 em novembro, que será realizada em Belém. A intenção do ministro é emplacar a secretária-executiva do Turismo, Ana Carla Lopes, como sucessora, movimento que pode ser tentado em diálogo com a cúpula do Palácio do Planalto. O Executivo, por ora, não se manifestou sobre a indicação.
Quem fica, quem sai e o que isso revela
Nem todos os nomes ligados ao União Brasil serão afetados: os ministros do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e das Comunicações, Frederico Siqueira, não precisam se afastar porque exercem cargos na cota pessoal do presidente do Senado, Davi Alcolumbre — e não são filiados ao partido. Essa manobra revela a natureza fluida das nomeações e a velha prática de barganha entre caciques regionais, que troca interesse público por jogo de influência privada.
Para nós, militantes e quem ainda acredita em um projeto de transformação, a saída de um ministro alinhado a uma legenda que se movimenta ao sabor de agendas eleitorais não é uma simples troca de cadeiras: é um alerta. A direita, cada vez mais desesperada, tenta se reposicionar taticamente, mas não apresenta proposta de Estado forte, nem defesa das estatais ou combate à concentração econômica. Pelo contrário: são os mesmos de sempre, a serviço de bilionários que querem privatizar tudo o que for público.
A oportunidade agora é política: Lula e o PT têm a chance de recompor a base de apoio com nomes comprometidos com sindicalismo, políticas públicas e soberania nacional — um antídoto às pressões privatistas e ao aluguel do Estado para interesses privados. Precisamos aproveitar para fortalecer ministérios que defendam a administração pública, as estatais e as políticas de proteção social, e não espaços ocupados por quem trata o governo como um balcão eleitoral.
Se o União Brasil acha que desistir do governo resolve suas crises internas ou escapa de perguntas incômodas, está enganado. A luta é de longa duração: desmontar a direita política, defender o patrimônio público e avançar numa agenda realmente popular não se faz com recuos e concessões. É hora de unidade entre governo e movimento popular para resistir às ofensivas das elites e garantir que o Brasil avance em soberania, justiça social e democracia real — sem entregar nada aos chantagistas de sempre.