As ruas voltaram a falar alto neste domingo (21) — e como falaram! Manifestantes ocuparam praças e avenidas em todas as capitais contra a PEC da Blindagem e o projeto de anistia, expondo ao sol o que a direita tenta esconder à noite: uma aliança descarada entre bolsonaristas e Centrão para salvar seus próprios rabos. A Câmara, sob o comando do oportunista Hugo Motta (Republicanos-PB) e com a bênção de Arthur Lira (PP-AL), experimentou o troco popular que não entra em gabinetes fechados: ordem das ruas contra impunidade!
O que aconteceu e por que importa
Os atos foram uma reação às manobras recentes na Câmara — aprovação da PEC que visa blindar parlamentares de processos e a votação de urgência para a anistia que, na prática, tenta livrar o chefe máximo do bolsonarismo. Tudo isso costurado por um acordo entre Centrão e bolsonaristas, costela por costela, para garantir impunidade. O Centrão quer calar as investigações, sobretudo as que atingem parlamentares que negociaram emendas e outras raposas do orçamento; são mais de 80 políticos com investigações no STF. Os bolsonaristas, por sua vez, querem resgatar Jair Bolsonaro da barra da justiça com uma anistia que cheira a escudo político.
Não é coincidência: foi um motim em agosto, com a tomada das mesas diretoras, que selou essa aliança. A tentativa de atropelar o processo legislativo — trazendo a anistia direto para o plenário, sem debates em comissão — era o plano perfeito para quem acredita que o poder pode ser exercido sem prestação de contas. Mas a reação popular mostrou que essa lógica tem limites. As ruas disseram não à impunidade; as capitais disseram não à proteção dos corruptos.
A manobra, porém, deu errado. A pressão pública e o desgaste político tornaram praticamente inviável a aprovação da PEC no Senado — ao menos por enquanto. Mesmo senadores que fingiam neutralidade agora se movem na direção contrária, buscando distância do carimbo de “blindagem” que já gruda na direita. E, para coroar o fiasco, tivemos a autocrítica forçosa: “Foi um tiro no pé”, disse um aliado de Bolsonaro. Pois foi mesmo — e que tiro bem disparado pela própria cumplicidade entre corruptos!
O legado imediato dessa investida é o desgaste: o Centrão e o bolsonarismo saem enfraquecidos politicamente e com a imagem manchada. A tentativa de amalgamar anistia e blindagem como pacote foi um erro estratégico que expôs o projeto hegemônico da direita: proteger os poderosos, atacar o Estado democrático e abrir caminho para ainda mais privatizações e entrega do patrimônio público às mãos dos bilionários.
Nós, que lutamos por um projeto popular e anticapitalista, sabemos que essa disputa não termina nas portas do Congresso. Trata-se de um embate sobre o futuro do país: vamos defender as estatais, os serviços públicos e a investigação séria contra a corrupção, ou vamos permitir que o parlamento seja transformado em bunker de proteção para mafiosos de colarinho branco? Lula e o PT aparecem aqui não apenas como alternativa eleitoral — são peças centrais na construção de uma nova etapa de luta que precisa ser anticapitalista, popular e disposta a enfrentar os interesses econômicos que querem privatizar tudo e entregar o país de bandeja.
A lição das manifestações é clara: a direita organizada pode tentar golpes institucionais, mas a sociedade organizada responde. As vozes nas ruas, de norte a sul, mostraram que há um sentimento nacional contra manipulações e privilégios. É hora de transformar essa energia em ação política permanente — pressão social contra medidas autoritárias, fortalecimento das lutas por serviços públicos e, sim, articulação para que a bandeira antineoliberal avance. A direita pode até tentar calar as comissões, apressar votações e trocar favores, mas não consegue calar a indignação social. Que venham mais mobilizações, que venha a organização popular, e que o diálogo com os movimentos e o campo progressista se intensifique — porque só um povo mobilizado derruba blindagens e impede a volta do saque.