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O que esperar do encontro entre Lula e Trump na Assembleia Geral da ONU: resistência e defesa da soberania brasileira

A liberação do visto de Andrés Padilha pelos Estados Unidos para acompanhar Lula na Assembleia Geral da ONU em Nova York é mais do que um detalhe logístico: é a confirmação de que Brasília vai à cena internacional com uma delegação pronta para responder aos ataques e para não aceitar humilhações impostas por Washington. Enquanto isso, a tensão entre Brasil e EUA só cresce — e não, não é por acaso. É resultado de escolhas políticas explícitas do governo americano e da resistência firme do Executivo brasileiro. O Brasil não se curva à chantagem.

A sessão plenária da ONU é o palco tradicional em que o Brasil abre os discursos — e, portanto, onde Lula terá a chance de reafirmar soberania e dignidade diante de quem tenta tratar o país como terra de caça para medidas unilaterais. Há expectativa midiática para um cruzamento com Donald Trump, mas ninguém vende ilusões: um aperto de mão é simbólico, e o que está em jogo é muito maior. Nos bastidores, há quem aponte uma antessala antes e depois dos pronunciamentos, mas não há indício de que os dois chefes de Estado venham a negociar algo substancial ali. Lula não aceita espetáculo humilhante.

“Não tenho problema pessoal com o presidente Donald Trump. Porque eu sou um cidadão civilizado. Eu converso com todo mundo, eu estendo a mão para todo mundo.” — disse Lula em entrevista à BBC News Brasil, mostrando a postura republicana e diplomática que o país precisa em tempos de agressões comerciais. O tom conciliador de Lula contrasta com a truculência das medidas adotadas por Washington: em 9 de julho Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, que passaram a vigorar em 1º de agosto, e a escalada seguiu com ameaças e retaliações verbais.

O governo brasileiro reagiu com firmeza. Em 15 de julho foi regulamentada a chamada Lei de Reciprocidade, contendo mecanismos para responder a sanções estrangeiras. E no fim de agosto, Lula foi às páginas do The New York Times para deixar claro o argumento econômico e institucional do Brasil: “O aumento tarifário imposto ao Brasil neste verão não é apenas equivocado, mas ilógico. Os Estados Unidos não têm déficit comercial com o nosso país, nem enfrentam tarifas elevadas aqui. Pelo contrário: acumulam um superávit de mais de US$ 400 bilhões nos últimos 15 anos.” No mesmo texto, ele defendeu o papel do Judiciário: “Tenho orgulho do Supremo Tribunal Federal brasileiro por sua decisão histórica, que protegeu nossas instituições e o Estado democrático de direito. Não se tratou de uma ‘caça às bruxas’, mas de um julgamento conduzido de acordo com a Constituição de 1988.”

A sequência da crise tem motivações claras: além da sobretaxa, o próprio Trump qualificou as acusações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no STF como uma “caça às bruxas”, chegando a anunciar restrições de vistos a ministros da Corte após a condenação de Bolsonaro a 27 anos de prisão — um ataque direto às instituições democráticas brasileiras.

Diálogo é improvável

Especialistas ouvidos nos bastidores não nutrem esperança em gestos grandiosos na ONU. “O Brasil está defendendo sua soberania e repelindo qualquer forma de ingerência externa indevida, enquanto o governo Trump acredita estar agindo corretamente, considerando que o Brasil faz uma ‘caça às bruxas’, para repetir o termo usado por ele,” avalia Paulo Velasco, professor de política internacional da Uerj, acrescentando que Lula não se permitirá passar por cenas constrangedoras como as protagonizadas por outros líderes em encontros com Trump. Já Matias Spektor, da FGV-SP, lembra que qualquer contato será “meramente formal”: “Eles estarão na sala de espera antes de subir ao pódio da Assembleia Geral e podem nem sequer se falar. Não haverá tempo nem equipes preparadas para negociações substantivas.”

Que fique claro: a presença brasileira em Nova York não é passeio protocolar nem submissão. É denúncia pública, é diplomacia com firmeza e é preparação para responder com medidas concretas a uma política externa que mistura retórica imperial e interesses econômicos predatórios. Enquanto a direita americana e seus aliados midiáticos querem transformar controvérsias internas do Brasil em pretexto para sanções, Lula e a delegação — com Padilha à frente — mostram que a alternativa é resistência e defesa da soberania, com disposição para diálogo quando ele for sério, e para retaliação quando for chantagem. O mundo vai assistir, e o Brasil precisa fazer ouvir sua voz sem medo nem bajulação.

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