A Câmara virou palco de mais um espetáculo grotesco do fisiologismo: a famigerada PEC da Blindagem — aquela cartilha de proteção aos próprios integrantes do Centrão — avançou no plenário sem o tal “acordo” com o Senado e deixou a tropa de choque conservadora em pânico nos corredores. Deputados do bloco reclamam, nos bastidores, que Hugo Motta (Republicanos-PB) teria colocado todo mundo na fogueira sem combinar com Davi Alcolumbre (União-AP) — e, claro, o resultado é o tiro no pé que qualquer militante honesto já previa. O que vemos é o velho jogo do toma-lá-dá-cá: proteger políticos, afundar interesses populares.
Embate nos bastidores
A reclamação principal é simples: faltou pacto entre as Casas. Parlamentares do Centrão dizem que Motta havia prometido que o texto seguiria também ao Senado, mas agora se sentem traídos. “Você acha que iríamos nos expor sozinhos se não tivéssemos certeza que o Senado iria pautar?”, disse, em tom de incredulidade, um deputado do Centrão. “Você acha que iríamos nos expor sozinhos se não tivéssemos certeza que o Senado iria pautar?” — um deputado do Centrão
O receio é justificado: senadores deixaram claro que pretendem rejeitar a PEC na próxima quarta-feira (24), o que transforma a iniciativa num espetáculo de vaidade parlamentar cuja consequência política é só desgaste público. Parlamentares reclamam que a Câmara foi “jogada na fogueira sozinha e à toa”, sensação que alimenta mais desconfiança do que qualquer argumento jurídico que tentem empurrar. Essa blindagem é um tapa na cara da democracia e um aceno aos saqueadores do erário.
Relator da proposta já sinalizou que a PEC sequer deve ir ao plenário do Senado. “Encerrar isso na CCJ” — relator da PEC, afirmou, sugerindo que o caso seja abafado o quanto antes. A estratégia é clara: enterrar o mais rápido possível para evitar mais desgaste midiático e popular. Mas quem faz política assim — por cima e às pressas — acaba ficando com a imagem do incendiário, não do bombeiro.
Interlocutores de Alcolumbre passaram a informação que acendeu ainda mais o barril de pólvora: dizem que Hugo Motta teria pautado a PEC sem consultar os senadores e que só procurou o presidente do Senado mais de três horas depois da aprovação na Câmara. “Hugo Motta tomou sozinho a decisão de pautar a PEC, sem consultar os senadores” — interlocutores de Davi Alcolumbre.
Do outro lado, aliados do próprio Motta comemoram o feito como se fosse um golaço histórico. Segundo esses apoiadores, a aprovação mostra força política — algo que nem Arthur Lira (PP-AL) teria conseguido. “O presidente da Câmara conseguiu a aprovação de uma PEC em defesa dos parlamentares, algo que nem mesmo o ex-presidente da Casa, Arthur Lira, havia conseguido no passado” — aliados de Hugo Motta.
E assim seguimos: a técnica do tapa-buraco institucional para salvar privilégios encontra resistência até dentro do balcão. Deputados prometem cobrar explicações de Motta caso Alcolumbre confirme que não houve acordo. “Vamos cobrar dele essa semana se estava mesmo e, em razão da repercussão negativa, Alcolumbre voltou atrás ou se não estava combinado” — outro parlamentar do Centrão.
Enquanto isso, a direita comemora internamente pequenas vitórias que são, na prática, veneno político para quem se diz defensor do país. Para nós, que lutamos por estatais, direitos sociais e por desmontar o projeto bolsonarista e seus tentáculos, a lição é clara: a disputa não é só no Congresso, é na opinião pública e nas ruas. A tentativa de blindar deputados corruptos só reforça a urgência de construir um projeto popular autêntico e de fortalecer as candidaturas e políticas que realmente enfrentem o capital e a velha política. O jogo sujo do Centrão precisa ser exposto — sempre!