O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à Assembleia Geral da ONU em Nova York com uma proposta que deveria provocar tanto os economistas do mercado quanto os generais do armamento: dinheiro público para salvar florestas tropicais, não bombas! Entre a pompa diplomática e a hipocrisia transnacional, Lula anunciou que o Brasil vai aportar US$ 1 bilhão no Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), uma iniciativa para pagar — com responsabilidade pública — pela manutenção das matas em pé. É a política externa de um governo que coloca a soberania e o patrimônio comum acima do balcão privado dos bilionários e de governos que preferem compensações vazias.
“O Brasil vai liderar pelo exemplo e se tornar o primeiro país a se comprometer com investimento no fundo, com 1 bilhão de dólares”, disse Lula ao abrir o debate de líderes na ONU. E não foi só isso: em discurso direto e sem rodeios, o presidente também afirmou que democracia e soberania brasileiras são “inegociáveis”. Enquanto isso, do outro lado do corredor vip, Donald Trump ofereceu seu show de vaidade: “Ele parece um cara muito legal, ele gosta de mim e eu gostei dele. E eu só faço negócio com gente de quem eu gosto… Por 39 segundos, nós tivemos uma ótima química”, disse o ex-presidente americano, orgulhoso da brevidade da sua diplomacia superficial. Que espetáculo de ego!
O fundo para florestas
A proposta do TFFF não é filantropia de ocasião: é tentativa de criar um mecanismo internacional para pagar a conservação das florestas, reconhecendo que essas áreas são bens comuns essenciais para limitar o aquecimento global a 1,5°C. “O TFFF não é caridade, é um investimento na humanidade e no planeta contra a ameaça de devastação pelo caos climático”, afirmou Lula — palavras que devem incomodar quem lucra com desmatamento e quem defende privatizações em nome do lucro imediato. O Brasil lidera o grupo de países com florestas tropicais que aderiram: além daqui, estão Colômbia, Gana, República Democrática do Congo, Indonésia e Malásia. Entre os potenciais investidores fundadores estão Alemanha, Emirados Árabes Unidos, França, Noruega e Reino Unido.
Não aceitaremos que o tema ambiental seja privatizado pelos mercados e pelos bilionários que querem transformar florestas em créditos negociáveis. O aporte inicial esperado pelos organizadores do fundo é de US$ 25 bilhões, com a esperança de alavancar até US$ 100 bilhões do setor privado nos próximos anos — uma alavanca que precisa ser fiscalizada para não virar mercantilização da natureza.
Como vai funcionar?
Os países que participarem terão de apresentar relatórios anuais com comprovantes de conservação, usando monitoramento por satélite para verificar a integridade das áreas. A previsão é de repassar cerca de US$ 4 por hectare preservado, com condições claras: pagamentos podem ser suspensos se houver desmatamento ou degradação. Os recursos ainda terão uma regra social mínima: os beneficiários deverão ter sistemas de gestão financeira transparentes e concordar em destinar 20% dos recursos especificamente para povos indígenas e comunidades tradicionais — um reconhecimento tardio, mas fundamental, de quem verdadeiramente protege as florestas no dia a dia.
Se o Brasil e outros países tropicais cumprirem o papel de proteger o bem comum, cabe à esquerda política e social transformar esse avanço em política pública permanente, com controle democrático e estatais fortes que regulem e multipliquem esses recursos.
Lula já vinha tratando do tema desde a COP28 em Dubai; agora, com o gesto público na ONU, lança um desafio: reconstruir a política ambiental internacional sem submeter a soberania nacional aos mercados e às chantagens da direita. Será suficiente? Não basta apenas promessa financeira: precisamos de fiscalização, participação popular e uma ofensiva política reconhecendo que a proteção do meio ambiente é parte da luta anticapitalista e do projeto de desenvolvimento soberano que defendemos. Quem diria que a defesa das florestas viria a ser, também, um novo campo de batalha contra os que preferem armas, acordos secretos e privatizações ao bem comum?