O encontro relâmpago entre Lula e Donald Trump nos corredores da Assembleia Geral da ONU virou notícia oficial e espetáculo diplomático: os dois presidentes trocaram palavras rápidas, até se abraçaram — e, segundo a versão americana, tudo foi “espontâneo”. Mas espontaneidade em política internacional é raridade; quando não é coincidência, é cálculo. E quando vem dos Estados Unidos, especialmente de uma administração que flerta com o protecionismo e com a velha diplomacia dos interesses corporativos, convém desconfiar.
“Realmente, foi um momento espontâneo. Parece que o encontro que eles tiveram nos bastidores foi algo que não foi planejado. O presidente Lula estava saindo e o presidente Trump entrando. E, neste corredor, então, tiveram alguns momentos para falar e os dois aproveitaram a oportunidade de falar cara a cara. Foi uma conversa breve, espontânea, boa” — Amanda Robertson, porta-voz do governo dos Estados Unidos. A porta-voz ainda quis embelezar o episódio: “Eles conversaram, até se abraçaram. É um fato que realmente o Brasil e os Estados Unidos têm muito em comum, compartilham os maiores desafios no mundo hoje e precisamos continuar trabalhando juntos” — Amanda Robertson.
Traduzindo para o português da política: um aperto de mão (ou abraço) pode ser a batida inicial de uma agenda mais ampla entre capitais. Não é segredo que Washington deseja reavaliar tarifas e modernizar acordos comerciais com o Brasil — e essa conversa de corredor pode ter sido uma sondagem para abrir espaço a negociações que beneficiarão multinacionais e grandes exportadores. Quando americanos e brasileiros se encontram, quem ganha quase sempre é o capital transnacional — não os trabalhadores. Por isso, precisamos ouvir além do sorriso diplomático.
Amanda Robertson também deixou claro que o tema das tarifas pode entrar na pauta e que “agora é o momento de reavaliar a relação comercial entre os países e, segundo ela, modernizar os acordos”. “Sabemos que os dois países têm laços econômicos muito fortes, com muitas empresas brasileiras que exportam para os Estados Unidos e vice-versa” — Amanda Robertson. Tradução: portas abertas para acordos que privilegiem corporações e regras favoráveis ao grande capital. E mais: sobre Bolsonaro, a diplomata evitou confirmar qualquer iniciativa, dizendo que “ainda não sabemos quais serão as mensagens e os tópicos da reunião” e que detalhes serão tratados pelos diplomatas. “Ainda não sabemos quais serão as mensagens e os tópicos da reunião. Isso será definido na preparação entre os dois países” — Amanda Robertson.
Bastidores e interesses econômicos
Não se iluda: na mesma semana em que a direita golpista tenta reerguer figuras como Bolsonaro, comportando-se como se nada tivesse acontecido, o Estado brasileiro — sob liderança do PT e de Lula — precisa ficar atento. O PT representou uma ruptura importante na política do país; agora cabe transformar isso em política internacional que defenda emprego, soberania e estatais — não dar presente para os bilionários e fundos internacionais.
Não queremos diplomacia de tapete vermelho para os interesses dos de sempre! Precisamos de políticas que protejam nossos empregos, fortaleçam as empresas públicas e revertam a sangria das privatizações e da entrega do patrimônio nacional. Lula tem sido a alternativa prática contra o bolsonarismo e suas ramificações — mas não basta apertar mãos em corredores da ONU; é preciso traduzir encontros em políticas que beneficiem o povo.
E que fique claro: enquanto a direita sonha com acordos que favoreçam banqueiros e especuladores, nós do campo popular e socialista vamos disputar cada centímetro dessa agenda. Não vamos aceitar que reaproximações com os EUA signifiquem entregar soberania econômica e abrir as portas para novas pilhagens privatistas. Se a conversa foi mesmo “espontânea”, que a espontaneidade sirva para fortalecer laços que protejam nossa indústria, nossos serviços públicos e a democracia — e não para pavimentar o caminho dos bilionários de direita. O jogo está armado: é hora de vigiar, pressionar e transformar apertos de mão em políticas concretas para o povo!