O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontra nesta quarta-feira (24) com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em Nova York, num encontro que chega permeado por expectativas frustradas e pela necessidade premente de uma saída diplomática para uma guerra que já se arrasta por três anos e meio. O horário ainda não foi confirmado, mas a pauta é clara: tentar dar voz a iniciativas de paz que, até agora, ficaram mais no desejo do que na prática. Enquanto a diplomacia orbita, a direita internacional — com seus cambaleios e reviravoltas — segue tentando empurrar narrativas convenientes.
O que Lula disse sobre a guerra
No debate de líderes da 80ª Assembleia-Geral da ONU, Lula deixou o recado que o mundo precisa ouvir: o conflito não tem solução militar e urge pavimentar um caminho diplomático que considere as preocupações de segurança de todas as partes. Em aliança declarada com a China, o presidente brasileiro ofereceu o papel de mediador para avançar negociações que, até agora, ficaram mais no papel do que na realidade. “No conflito na Ucrânia, todos já sabemos que não haverá solução militar. O recente encontro no Alasca despertou a esperança de uma saída negociada. É preciso pavimentar caminhos para uma solução realista, que leve em conta as preocupações de segurança de todas as partes”, disse Luiz Inácio Lula da Silva.
Lula mantém a linha histórica do Brasil: condena a invasão russa, mas evita alinhamentos automáticos com sanções unilaterais impingidas pelos Estados Unidos e pela União Europeia — posição que irrita parte do establishment ocidental e, em especial, gerou queixas públicas anteriores de Zelensky, que já cobrou um tom mais incisivo por parte de Brasília. Essa postura do Brasil, longe de ser covarde, é estratégica: tentar articular soluções multilaterais em vez de transformar o país em braço diplomático da OTAN ou cumprir ordens das elites neoliberais.
Não se trata de fazer média com nada nem com ninguém: trata-se de buscar saída que minimize mortes e destruição. Para um governo que pretende reconstruir a soberania e revalorizar o papel do Estado, como diz o PT, a mediação internacional é também um instrumento de política externa anti-imperialista.
A mudança de tom de Trump
Enquanto Lula batia na tecla do diálogo, o show de inconstâncias americano continuou. Donald Trump, que há meses vinha sugerindo que a Ucrânia pudesse ceder territórios em troca de paz, deu uma guinada surpreendente. Em postagem nas redes sociais após se reunir com Zelensky e revisar avaliações sobre a situação militar, o ex-presidente afirmou acreditar que a Ucrânia pode, com apoio da União Europeia, “lutar e reconquistar toda a Ucrânia de volta à sua forma original”, chamando a Rússia de “tigre de papel”. “Depois de conhecer e entender completamente a situação militar e econômica da Ucrânia/Rússia, acho que a Ucrânia está em posição de lutar e conquistar toda a Ucrânia de volta à sua forma original”, escreveu Donald Trump.
Essa oscilação é sintomática: a direita internacional — ora defensora de concessões geopolíticas, ora de bravatas militares — mostra que não tem projeto sério de paz, apenas manobras para manter influência e vender soluções fáceis à opinião pública. Enquanto isso, líderes como Lula tentam resgatar a política como ferramenta de mediação, oposição às privatizações e defesa de estatais, ao mesmo tempo em que o bolsonarismo e seus satélites seguem aplaudindo qualquer postura pró-mercado que enfraque o Estado.
Enquanto uns mudam de posição conforme conveniência, outros trabalham pela paz com propostas concretas e independentes. O encontro em Nova York é uma chance para o Brasil reafirmar sua diplomacia soberana e para Lula mostrar que o país pode ter papel relevante num tabuleiro mundial dominado por bilionários e interesses geopolíticos predatórios.
Esse é o momento de cobrar iniciativas reais: quer se seja mediador, quer se pressione por negociações multilaterais, é preciso transformar intenção em ação. A batalha por uma paz justa passa por enfrentar interesses econômicos e belicistas — e isso exige coragem política. Lula vai a Nova York com essa missão; resta ver se o mundo tem ouvidos para resistir às sirenes da guerra e aos oportunismos da direita.