O Pantanal chorou. Na noite de terça-feira, um monomotor caiu na zona rural de Aquidauana (MS) e levou quatro vidas: o piloto e proprietário Marcelo Pereira de Barros, os documentaristas Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr., e o arquiteto chinês Kongjian Yu, presença marcante na Bienal de Arquitetura de São Paulo e proponente das chamadas “cidades esponja”. A perda é humana e política: perder alguém que pensava o futuro das cidades e dos ecossistemas é, também, perder parte de um horizonte coletivo de proteção ambiental em um país que tanto precisa dele.
“Recebi com tristeza a notícia da queda de um avião, no Pantanal, que vitimou o arquiteto e urbanista chinês Kongjian Yu, no Pantanal, os cineastas Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr” — Geraldo Alckmin, vice-presidente, em publicação nas redes sociais.
“Foi com tristeza e consternação que recebi a notícia do desastre aéreo ocorrido no Pantanal no início da noite desta terça-feira, 23. A tragédia, infelizmente, custou as vidas do piloto Marcelo Pereira de Barros, dos documentaristas Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr e do arquiteto chinês Kongjian Yu… Em tempos de mudança climática, Kongjian Yu se tornou uma referência mundial com as cidades esponja, que unem qualidade de vida e proteção ambiental: algo que queremos – e precisamos – para o futuro. A todos os amigos, familiares e colegas de trabalho das vítimas, deixo meus mais profundos sentimentos” — Luiz Inácio Lula da Silva, presidente, em pronunciamento durante viagem à ONU.
O acidente e o legado
As autoridades do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil identificaram as quatro vítimas, e as investigações sobre as causas do acidente seguem em curso. A comoção é compreensível: não só pela vida humana, mas pelo simbólico que Kongjian Yu representava para a luta ambiental — alguém que propôs práticas para tornar cidades resilientes frente às cheias, algo absolutamente pertinente para o Pantanal e para o Brasil diante das mudanças climáticas. O trabalho dos documentaristas também era essencial: registrar, investigar, contar — papel que a direita sempre desdenha, mas que mantém viva a memória e a denúncia.
Perder pensadores que propõem soluções para o clima é empobrecer o futuro de todos nós. E diante disso, que resposta vamos permitir dos que governaram para degradar a natureza e desmontar políticas públicas? Os mesmos que promoveram desmonte ambiental e privatizações têm o descaramento de aparecer em tom protocolar, quando não em silêncio cúmplice. Não podemos aceitar hipocrisia!
A missão de Kongjian Yu ao Pantanal era, portanto, mais que turismo intelectual: era um gesto de solidariedade com um bioma que sofre ataques constantes — desmatamento, queimadas, grilagem, descarte irregular e políticas públicas insuficientes. Por isso o fato ecoa politicamente. O Pantanal exige defesa pública e investimento estatal, não a entrega às agendas do mercado que preferem lucro imediato ao cuidado coletivo.
A atuação do governo Lula, mesmo em minoria dentro da máquina estatal, busca reverter parte desse quadro — fortalecimento de políticas ambientais, recuperação de marcos regulatórios e maior protagonismo do Estado em pesquisa e proteção dos biomas. Isso nos coloca diante de uma encruzilhada: vamos seguir permitindo retrocessos que alimentam a destruição e a impunidade, ou vamos exigir um projeto popular autêntico que coloque o povo e o meio ambiente no centro?
O enfrentamento à crise climática exige Estado forte, ciência pública e diálogo internacional — e quem bate palmas para a privatização está do lado errado da história. Hoje lembramos as vítimas, suas famílias e seus colegas; amanhã precisamos transformar memória em luta por políticas que evitem outras tragédias, que protejam o Pantanal e valorizem quem pensa soluções coletivas.
Que o reconhecimento internacional ao trabalho de Kongjian Yu não se limite a notas protocolares. Que a comoção vire políticas concretas: proteção dos biomas, financiamento público à pesquisa, apoio à produção cultural crítica e soberania sobre nossos territórios. E que a direita corrupta e negacionista, que tanto fez para enfraquecer essas frentes, não tenha espaço para se redimir com falsas promessas. Prestemos homenagem às vidas perdidas atuando com firmeza pela defesa do Pantanal e pela continuidade das lutas que elas inspiravam.