O encontro entre Lula e Trump na Assembleia Geral da ONU virou cena de filme ruim para os que ainda apostam no ódio como política externa — e cena de esperança para quem acredita que é possível colocar o Brasil em posição de diálogo e defesa dos interesses nacionais, longe das chantagens de mercado. O presidente Lula celebrou que “aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível” ao cumprimentar Trump; agora começa a parte prática: transformar essa “química” em diplomacia que sirva ao povo e não aos lucros dos bilionários que adoram sobretaxas e guerras comerciais.
Trump e Lula na ONU
Lula: “Satisfação de ter um encontro com o presidente Trump. Aquilo que parecia impossível, deixou de ser impossível e aconteceu. Fiquei feliz quando ele disse que pintou uma química boa entre nós.” Lula deixou claro que estendeu a mão e quer conversa franca: é preciso “basear conversas em informações verdadeiras” para corrigir decisões equivocadas dos EUA sobre o Brasil. Lula estendeu a mão enquanto desmantelava narrativas da direita.
Do lado americano, não faltou a costumeira mistura de pompa e simplismo de sempre. Donald Trump: “Eu o vi, ele me viu, e nos abraçamos… concordamos que nos encontraríamos na semana que vem… Por 39 segundos, nós tivemos uma ótima química e isso é um bom sinal.” A piada dos 39 segundos rendeu risos e memes — e também mostrou o estilo negociador do magnata: emotivo, imediato e sem paciência para sutilezas. Mas há algo mais sério na pauta: em julho os EUA impuseram sobretaxa de 50% sobre vários produtos brasileiros, e a reunião entre chefes de Estado quer discutir essas retaliações. Brasil não é terreno para ataques de mercado e chantagens de bilionários e suas sobretaxas.
Trump aproveitou para criticar publicamente o Judiciário brasileiro, acusando “censura, repressão, corrupção judicial e perseguição a críticos políticos” — um ataque que muitos aqui reconhecem como tentativa de interferir e deslegitimar processos internos. Lula, por sua vez, tratou de afirmar que Trump está mal-informado sobre o Brasil que fez escolhas diferentes das da extrema-direita bolsonarista.
PEC da Blindagem
No front interno, Lula reagiu com dureza à tentativa de blindagem de parlamentares. Lula: “O que eu acho equivoco histórico foi colocar aquela PEC em votação. Desnecessária, provocativa e passou um sinal péssimo para a sociedade brasileira.” O presidente sublinhou que a proteção só existe para quem não comete erros: “O único jeito das pessoas serem protegidas é as pessoas não fazerem coisa errada.” Não há como não rir amargamente: a direita tenta salvar as próprias vergonhas com emendas constitucionais enquanto clama por “respeito à democracia”. Respeito que se conquista com trabalho, direitos e justiça, não com proteções especiais.
Guerra na Ucrânia
Lula também encontrou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e saiu com a sensação de que há espaço para negociação. Lula: “Senti que o presidente ucraniano estava mais disposto a conversar do que nos encontros anteriores.” E mais: Lula: “Vou conversar com Trump sobre a questão da guerra. Eu sei que ele é amigo do Putin, eu também sou amigo do Putin. Então se um amigo pode muita coisa, dois amigos podem muito mais.” O presidente aposta que a diplomacia pode buscar saídas inesperadas — e quem não quer a paz quando a guerra já cansou a todos?
Nada disso significa entrega aos EUA ou condescendência com políticas neoliberais. Pelo contrário: a tática de Lula é fazer política ativa para defender a soberania, as estatais e os interesses populares — colocar o Brasil no mapa como ator que negocia sem se curvar. Para nós, que lutamos contra o bolsonarismo e suas ramificações, isso é combustível para avançar: não basta a “química” entre líderes; precisamos de políticas concretas que revertam privatizações, protejam empregos e enfrentem os bilionários que transformaram a política em mercado.
Se a diplomacia floresce, que floresça ao serviço da maioria e não de uma minúscula elite. O desafio agora é transformar esse encontro em capacidade real de negociação e em políticas que beneficiem o povo brasileiro — e que façam da retomada do país um passo gigante rumo a uma nova etapa de luta anticapitalista, democrática e popular. Quem quer combate ao autoritarismo e às rapinas privatistas precisa ficar atento: a mão estendida não é cessar-fogo com a agenda neoliberal; é começar a lutar em outro terreno — mais duro, mais estratégico e necessário.